A chefe da diplomacia europeia disse, esta quarta-feira, que os Estados Unidos "não fizeram nada" contra a Rússia, enquanto a UE vai no 19.º pacote de sanções, apontando que o presidente russo "goza" com o homólogo norte-americano.
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"Estamos a fazer alguma coisa. Não tenho visto os Estados Unidos a fazer nada contra a Rússia e, por isso, é sempre uma boa tática passar ao ataque em temas como este, mas penso que o importante é coordenarmo-nos e trabalharmos juntos", disse Kaja Kallas, em entrevista à Lusa em Bruxelas.
Quando questionada sobre a pressão norte-americana para a UE alargar as sanções à energia russa, a Alta Representante para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, apontou: "Se os Estados Unidos querem paz, a Europa quer paz, e a Ucrânia quer certamente paz então o que podemos fazer para que a Rússia também queira paz [...] é pressionar [...] para ficarem sem dinheiro para financiar a guerra".
Já quanto aos falhanços do verão apesar dos esforços de mediação diplomática do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, entre Rússia e Ucrânia, a chefe da diplomacia comunitária apontou que o chefe de Estado norte-americano "fez esforços pela paz, mas está claro que [o Presidente russo, Vladimir] Putin goza com esses esforços".
"Temos de dar passos para que eles também queiram paz", indicou.
Numa altura em que Trump insta a UE a impor tarifas à Índia e à China devido ao petróleo russo e pressiona os 27 para acabar mais cedo do que previsto com as importações de energia russa, definido para final de 2027, Kaja Kallas confirmou o adiamento da proposta para um novo pacote de sanções à Rússia, o 19.º, que devia avançar esta semana.
"Estamos a trabalhar para ter um pacote de medidas o mais forte possível e infelizmente isso leva algum tempo", disse sem especificar.
"Gostaria que isso acontecesse o mais depressa possível porque penso que também é importante termos uma reação forte depois da incursão na Polónia e do que a Rússia está a fazer", adiantou a responsável, referindo-se à invasão do espaço aéreo polaco por drones (veículos aéreos não tripulados) russos.
A guerra na Ucrânia, causada pela invasão da Rússia em fevereiro de 2022, tem assentado num combate intenso nas regiões do leste e do sul, com frequentes bombardeamentos de infraestrutura civil, deslocamentos de populações e elevado número de baixas.
Neste verão, houve múltiplas tentativas diplomáticas para estabelecer um cessar-fogo, incluindo uma proposta dos Estados Unidos de suspensão das hostilidades por 30 dias, mas apesar de tais esforços não houve avanço significativo real.
"Na altura, não acreditei [num cessar-fogo], devo dizer", afirmou Kaja Kallas na entrevista à Lusa.
Porém, "é bom que os americanos tenham feito o esforço", apesar de a Rússia "querer claramente a guerra".
"Desde as negociações, [os russos] têm estado apenas a brincar, a gozar com os esforços de paz, aumentando os ataques à Ucrânia - os maiores ataques aéreos desde o início da guerra - e tomando outras medidas. Portanto, para nós é claro que temos de manter o rumo e pressionar a Rússia para que também queira a paz", concluiu Kaja Kallas.
Os combates continuaram em várias frentes e Moscovo manteve reservas ou exigências de garantias que Kiev e aliados consideraram inaceitáveis.