
Para Durão Barroso, que foi primeiro-ministro entre 2002 e 2024, o investimento em defesa não põe em causa o bem-estar social da Europa
Foto: LUSA
O antigo presidente da Comissão Europeia Durão Barroso defendeu hoje a necessidade de a Europa estar preparada para uma provável guerra contra a Rússia, considerando que a única forma de manter a paz é estar pronta para o conflito.
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"Se a União Europeia quer existir como entidade política, tem também de fazer algo pela sua própria defesa, não numa perspetiva militarista, que não é a minha, mas precisamente para garantir a paz", afirmou, em entrevista à Lusa, à margem do Fórum EuroAméricas, que decorre hoje em Carcavelos, Cascais.
Mais do que nunca, aplica-se o princípio de "se queres a paz, prepara-te para a guerra"", defendeu, considerando que neste momento, "a única forma de evitarmos uma guerra generalizada na Europa é mostrar aos potenciais agressores que estamos preparados e que não terão sucesso".
Para Durão Barroso, que foi primeiro-ministro entre 2002 e 2024, o investimento em defesa não põe em causa o bem-estar social da Europa.
"Custará muito mais uma guerra do que o investimento em defesa para evitar essa guerra. Custará muito mais se tivermos uma guerra, não apenas em vidas humanas, que é o mais importante, mas também até em termos económicos", sublinhou.
Além disso, ressalvou, investir em defesa "não é só investir em tanques e armas, é investir em capacidades de defesa que incluem, por exemplo, tecnologia", setor onde os norte-americanos têm vantagem sobre a Europa precisamente pelo investimento que fizeram nessa indústria.
Embora tenha admitido que não gostaria que os seus netos fossem chamados para combater numa guerra, Durão Barroso considera que "é muito possível" que Portugal tenha de participar num conflito alargado.
"Nós aqui, em Portugal, talvez não sintamos isso de maneira tão clara, mas eu estive há pouco tempo na Polónia. Eles estão a preparar-se ativamente para uma guerra que acham que é muito provável que aconteça. E a Polónia é um país da União Europeia, é um país da NATO. Se a Polónia for atacada, Portugal tem o dever, pelos tratados que assinou, de ajudar à Polónia", lembrou.
Um cenário que o também ex-ministro dos Negócios Estrangeiros acha "muito possível".
"Todos os chefes militares dos principais países europeus dizem o mesmo: preparemo-nos porque há uma possibilidade grande de um ataque da Rússia a um país da NATO [Organização do Tratado do Atlântico Norte] e da União Europeia", avançou, sublinhando que o alerta é lançado "por especialistas".
A única forma de evitar que o Presidente russo, Vladimir Putin, avance é, "obviamente, não permitir que ele tenha uma vitória na Ucrânia", concluiu.
