Um dos 41 arguidos no inquérito pendente sobre a derrocada do Grupo Espírito Santo é uma ilustre personagem do regime do antigo presidente da Venezuela Hugo Chávez.
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Trata-se de Nervis Villalobos, um engenheiro que chegou a ocupar o cargo de vice-ministro da Energia e foi detido no ano passado em Espanha, por corrupção e branqueamento de capitais.
De acordo com informações recolhidas pelo JN, na qualidade de arguido já formalmente constituído em Portugal, Villalobos foi um dos sujeitos processuais que invocaram junto do Ministério Público já ter sido ultrapassado o prazo normal de duração do inquérito, pelo que não poderia prosseguir em segredo de justiça. Nessa sequência, pediu a consulta do processo, o que acabou por ser deferido pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal, onde, a cargo da equipa liderada pelo procurador José Ranito, estão concentrados os 253 inquéritos instaurados a propósito do escândalo.
A par de Nervis Villalobos, também Ricardo Salgado, Francisco Machado da Cruz e Paulo Nacif Jorge foram autorizados a consultar os autos, nos quais se investigam indícios de crimes de burla, corrupção, branqueamento de capitais, entre outros, embora com bastantes restrições - em especial decorrentes do segredo bancário e de cartas rogatórias obtidas mediante contratos de cooperação internacional.
refugiado em espanha
O que liga Nervis Villalobos ao caso BES? Este ex-vice-ministro da Energia da Venezuela e ex-alto responsável da empresa estatal Petróleos da Venezuela (ler caixa) é suspeito de corrupção passiva no âmbito de operações de comércio internacional. O seu envolvimento justifica-se porque, de acordo com a investigação, terá sido um dos beneficiários de pagamentos não documentados efetuados pela ES Entreprises, sociedade offshore com sede no Panamá que terá funcionado como "saco azul" do Grupo Espírito Santo. Além de Villalobos, outras personalidades do regime venezuelano são suspeitas de terem recebido luvas. É o caso de Rafael Ramirez, presidente da petrolífera estatal entre 2004 e 2014.
Alegadamente, Villalobos terá recebido em contrapartida pela contratação do BES para serviços financeiros e também para aquisição de dívida do Grupo Espírito Santo, que chegou a atingir 8,2 mil milhões de euros.
Este ex-responsável político terá guardado dinheiro de subornos no próprio BES e em bancos em Andorra, Madrid e Suíça. Além disso, investiu no imobiliário em Espanha.
A viver no país vizinho, Villalobos foi alvo de um mandado de detenção das autoridades dos Estados Unidos, que abriram investigação por crime de corrupção internacional, a propósito de um desfalque de cinco mil milhões de euros na Petróleos da Venezuela.
Perfil
Engenheiro que chegou a vice de Hugo Chávez - Engenheiro especialista em planificação de sistemas elétricos, Nervis Gerardo Villalobos Cardenas trabalhou na empresa pública de energia elétrica da Venezuela antes de, já neste século, chegar ao Governo liderado por Hugo Chávez.
Como vice-ministro, liderou vários dossiês relacionados com a construção de barragens e centrais elétricas. Obras que, alegam as autoridades, lhe permitiram receber milhões de euros em subornos para garantir a empresas estrangeiras contratos com o Estado.
Entre 2006 e 2015, apresentou-se como assessor internacional em matéria de energia elétrica e, já em outubro de 2017, foi detido, em Madrid, pela Guardia Civil. Libertado em setembro do ano passado, foi preso um mês depois pelas autoridades de Espanha, onde possuía dezenas de imóveis, avaliados em milhões de euros.