Primeira volta das eleições legislativas em França realiza-se este domingo com as sondagens a indicarem uma subida meteórica da União Nacional. Não suficiente para a proclamação de vitória.
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Cerca de 49 milhões de eleitores franceses são chamados este domingo às urnas para eleger os 577 lugares da Assembleia Nacional (Parlamento), na primeira volta de umas legislativas antecipadas marcadas por Emmanuel Macron para “clarificar” o cenário político, depois do desaire eleitoral centrista nas europeias de 9 de junho. As sondagens apontam todas para a ascensão da extrema-direita, com o partido União Nacional (RN, do francês Rassemblement National) a congregar entre 36 a 37% das intenções de voto. Já o segundo lugar deverá ser assegurado pela coligação de Esquerda, a Nova Frente Popular (28 a 29%), o que atira para um desastroso terceiro lugar (20 a 21%) a coligação presidencial, o Juntos (Ensemble). Hecatombe que Macron tentou travar ao lançar, na reta final da campanha, apelos contra os “extremos” à Esquerda e à Direita.
Nas últimas horas de campanha eleitoral, Emmanuel Macron fez o que pôde para tentar aproximar o eleitorado do centro e da coligação Ensemble, liderada pelo atual primeiro-ministro Gabriel Attal, ao colocar num mesmo plano o União Nacional e a França Insubmissa (LFI, esquerda radical) “e aqueles que os seguem” - numa referência à Nova Frente Popular, que congrega a LFI, o Partido Socialista, os Ecologistas e o Partido Comunista.
“Já tive oportunidade de dizer que pessoas da extrema-esquerda disseram coisas sobre antissemitismo ou violência, sobre antiparlamentarismo que eu desaprovo, que estão fora do arco republicano”, afirmou o presidente francês. Macron assinalou ainda o que disse ser a “arrogância” do RN, que pretende impor-lhe uma coabitação sofrível em caso de vitória, tendo garantido que “já repartiu” todos os cargos governamentais.
Lutar pela sobrevivência
Numa eleição antecipada que poderá lançar o caos no país político, ao posicionar a extrema-direita, anti-imigração, como a maior força no Parlamento, a coligação centrista de Macron ainda lutava este fim de semana pela sobrevivência.
Macron, que alertou na semana passada que a França arriscava uma “guerra civil” se o RN anti-imigração de Marine Le Pen, ou a coligação de esquerda Nova Frente Popular, chegassem ao poder, referiu mesmo na cimeira europeia em Bruxelas que “o racismo e o antissemitismo desinibidos” tinham sido desencadeados em França.
Estratégia de impor uma atmosfera de medo, em que os centristas são apresentados como única força política racional e razoável para conter o colapso de uma sociedade francesa polarizada, que tem sido entendida pelos analistas como um tiro no pé. Ou pela culatra.
Os resultados das eleições em duas voltas, que se espera que tenham uma participação elevada já na primeira ronda deste domingo, são, contudo, difíceis de prever, com os analistas a avisarem que França está a entrar em águas desconhecidas. Macron deverá enfrentar um Parlamento dividido, incapaz de produzir uma maioria estável para governar a segunda economia da União Europeia e a sua principal potência militar, assinalava um artigo do jornal “The Observer”.
Caso nenhum partido consiga este domingo mais de 50% dos votos (pelo menos 289 eleitos) – o cenário mais provável –, a segunda volta acontece já a 7 de julho.