Coligação de esquerdas vence, aliança de Macron fica em segundo, União Nacional em terceiro Primeiro-ministro, Gabriel Attal, apresenta a demissão ao presidente.
Corpo do artigo
Contrariando os resultados das sondagens, a extrema-direita saiu derrotada nas eleições legislativas de França. Atribuídos os 577 lugares do Parlamento, a União Nacional de Jordan Bardella e Marine Le Pen conseguiu 143 deputados. Os eleitores votaram em massa e escolheram como principal força política a união de esquerdas Nova Frente Popular, com 182 eleitos. O Juntos, aliança centrista liderada pelo Renascimento do presidente Emmanuel Macron, ficou em segundo lugar com 168. Face aos resultados, o primeiro-ministro, Gabriel Attal, anunciou que vai apresentar a sua demissão esta segunda-feira.
A quarta força mais votada é o partido Os Republicanos, com 45 lugares no novo desenho do Palais-Bourbon, como também é designada a Assembleia Nacional, câmara baixa do Parlamento.
A reação do líder da União Nacional não se fez esperar. Jordan Bardella classificou a vitória da Esquerda como o resultado de “alianças políticas contranatura” e de “arranjinhos perigosos”. Referindo-se a acordos eleitorais “orquestrados a partir do Eliseu”, o dirigente da extrema-direita francesa disse que Emmanuel Macron “empurrou o país para a incerteza e para a instabilidade” e que os acordos eleitorais “atiraram a França para os braços da extrema-esquerda de Jean-Luc Mélenchon”.
As críticas de Bardella foram dirigidas a Macron e também ao “bloco republicano” que tinha sido pedido, na semana passada, por Gabriel Attal, mal se soube que a União Nacional tinha vencido a primeira volta. Os protagonistas principais do “cerco sanitário” à extrema-direita foram o Juntos de Macron e a Nova Frente Popular, cujo rosto mais visível é o radical de Esquerda Jean-Luc Mélenchon, fundador do França Insubmissa.
Primeiro a falar logo que foram divulgadas as primeiras projeções, Mélenchon afirmou que a Nova Frente Popular “está pronta para governar”, depois de “desmontar a armadilha que tinha sido preparada para o país” com a previsão de a extrema-direita chegar ao poder. Já Olivier Faure, líder do Partido Socialista, garantiu que a aliança de Esquerda vai “pôr em marcha uma nova página” da história do país.
Reagindo mais tarde do que outros, Marine Le Pen afirmou que a vitória da União Nacional ficou “apenas adiada”. “A maré está a subir. Desta vez não subiu suficientemente alto, mas continua a subir”, afirmou. Ainda assim, o seu partido deverá conseguir um número histórico de deputados.
Respeitar a escolha
Emmanuel Macron remeteu-se ao silêncio. Um comunicado emitido pelo Eliseu referia que, “de acordo com a tradição republicana”, o presidente “aguardará a configuração da nova Assembleia Nacional para tomar as decisões necessárias”, com a garantia de que irá respeitar “a escolha soberana do povo francês”.
Perante os dados das projeções, nenhum partido chega à maioria absoluta, para a qual seria necessário eleger 289 deputados. O instituto de sondagens Ifop apresenta ainda números partido a partido, prevendo para o França Insubmissa entre 85 e 94 lugares e para os socialistas entre 55 e 65.
O resultado das eleições provocou manifestações um pouco por todo o país, algumas com a violência característica dos extremismos, como pedras arremessadas à Polícia e montras partidas.
Desistências
Foram 224 os candidatos que desistiram da segunda volta para formar um “bloco republicano” que barrasse a extrema-direita. Sobretudo do campo presidencial (o Juntos, aliança centrista liderada pelo Renascimento de Emmanuel Macron) e da coligação de esquerdas Nova Frente Popular. Dos 76 deputados eleitos à primeira volta, 39 são da União Nacional, 31 da Nova Frente Popular e apenas dois do Juntos.
Colagem de Ciotti
Éric Ciotti, líder do partido Os Republicanos, anunciou, à revelia dos seus pares, o apoio à União Nacional, partido de extrema-direita que tem raízes na Frente Nacional de Jean-Marie Le Pen. Com a atual designação desde 2018, a União Nacional foi liderada por Marine Le Pen até 2021. Sucedeu-lhe Jordan Bardella, que com apenas 23 anos foi eleito eurodeputado. A colagem de Ciotti valeu-lhe ser expulso do partido, o que contestou nos tribunais.
Aliança à esquerda
O antigo presidente François Hollande pediu a formação de uma Nova Frente Popular e foi sob essa bandeira que concorreu a estas eleições. A coligação inclui socialistas, comunistas, ecologistas e o França Insubmissa, o mais representativo, partido radical que foi fundado em 2016 por Jean-Luc Mélenchon, antigo ministro de Lionel Jospin que chegou a concorrer à presidência da República.