A estratégia anti-nuclear da administração Obama, de que é peça fundamental o Tratado START, a assinar na quinta-feira com a Rússia, pode esbarrar na falta de apoio interno e externo, alertam analistas norte-americanos.
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George Perkovich, do Carnegie Endowment for Peace, salienta em artigo recente - "A Agenda Nuclear Obama Um Ano Depois de Praga" - que a ratificação do START ao nível do Senado norte-americano vai exigir não só apoio do partido republicano, mas também de figuras chave entre os democratas, que têm manifestado reticências.
"Temos um Presidente talentoso pronto a liderar uma campanha [anti-nuclear] a longo prazo (...), mas por enquanto sem homólogos e apoiantes suficientes para o conseguir", escreve o analista.
Henry Sokolski, director executivo do Centro para a Educação de Políticas de Não Proliferação, afirma que, em ano de eleições intercalares, nenhum republicano estará disposto a dar uma "vitória" política ao lado democrata.
"Embora a administração queira ter o tratado ratificado antes do final do ano, isso provavelmente só acontecerá numa sessão discreta após as eleições. (...) Aí, os republicanos deverão apoiar o tratado, se as suas principais preocupações forem atendidas", escreve o analista.
Uma das críticas aos pontos essenciais do tratado é que o número de armas permitido é superior ao inicialmente previsto, mas também há preocupações quanto à operacionalidade do arsenal nuclear norte-americano.
Entre os defensores do "mérito" do START para passar no Senado estão Strobe Talbott, ex-secretário de Estado adjunto na administração Clinton e atual presidente da Brookings Institution, e Steven Pifer, ex-embaixador na Ucrânia.
O tratado, defendem, aumenta a segurança ao limitar o número de ogivas nucleares norte-americanas e russas, apesar de manter a capacidade de dissuasão, permite a Washington detectar violações atempadamente e estimula aspirações anti-nucleares.
"A conclusão do tratado deverá dar um impulso às relações EUA-Rússia. Isso pode assegurar maior cooperação de Moscovo em desafios como as ambições nucleares do Irão. Uma vez assinado, o tratado será sujeito a apertado escrutínio pelo Senado. Uma vez que afecta interesses vitais de segurança, deve merecer a aprovação", afirmam.
Foi em Praga que há um ano Barack Obama lançou a agenda norte-americana para desarmamento e não proliferação nuclear; é à capital checa que regressa na quinta feira para assinar o START.
A estratégia da administração envolve ainda a revisão do Tratado de Não-Proliferação, nas Nações Unidas em maio, a revisão da Postura Nuclear (NPR) de Washington, anunciada terça feira, e a Cimeira da Segurança Nuclear, na próxima semana em Washington, que o analista Micah Zenko, do Council on Foreign Relations, considera o "termómetro" do apoio internacional a esta abordagem.
"Os compromissos feitos na Cimeira e a sua implementação são mais importantes para a segurança dos Estados Unidos e seus aliados do que a NPR ou o START", refere em artigo publicado esta semana - "A Sensata Revisão Obama da Postura Nuclear".
A nova postura reconhece pela primeira vez que a grande ameaça a nível nuclear não é um ataque de países como o Irão ou a Coreia do Norte, mas um atentado terrorista com armas nucleares ou material radioactivo, refere Zenko.