A família de Joe Biden instou-o a permanecer na corrida às eleições presidenciais dos Estados Unidos, depois de um desempenho desastroso no debate da semana passada, de acordo com a imprensa norte-americana. Vozes dentro do partido democrata criticam a preparação da sua equipa para o frente a frente com Donald Trump.
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O presidente norte-americano viajou com a família para a residência presidencial em Camp David na noite de sábado, onde as discussões incluíram questões sobre o seu futuro político. A NBC News noticiou que se esperava que reavaliasse a campanha de reeleição à presidência, após crescentes apelos de especialistas, meios de comunicação social e eleitores para que se afastasse.
No entanto, o porta-voz da Casa Branca, Andrew Bates, publicou na rede social X que a viagem já estava planeada antes do debate, contestando a insinuação de que estaria a reponderar a candidatura. A viagem a Camp David tinha sido previamente agendada para acomodar uma sessão fotográfica com Annie Leibovitz para a próxima Convenção Nacional Democrata.
De acordo com o jornal "The New York Times", durante o encontro em Camp David – que incluiu a mulher, os filhos e os netos – a família disse-lhe que ainda poderia mostrar aos americanos que é capaz de cumprir mais quatro anos. Embora estejam cientes do fraco desempenho, continuam a pensar que é a melhor pessoa para derrotar Donald Trump.
A Associated Press noticiou que as vozes mais fortes que imploravam a Biden para resistir à pressão para desistir eram a mulher, Jill, e o filho Hunter - que no mês passado se tornou o primeiro filho de um presidente em funções a ser condenado por um crime depois de um júri o ter considerado culpado.
Má preparação para o debate
Os familiares do presidente criticaram também a forma como os seus conselheiros mais próximos o prepararam para o debate. No domingo, começou a construir-se uma narrativa que culpava o rigoroso calendário de preparação, que isolou Biden em Camp David durante seis dias.
Os críticos do desempenho vulnerável de Biden disseram, também, que a preparação deveria ter-se focado na visão mais ampla que precisava de vender ao país.
“O meu único pedido foi garantir que descansava antes do debate, mas estava exausto. Não estava bem”, disse à agência Reuters uma pessoa próxima que apelou aos principais conselheiros de Biden nos dias anteriores. “Que má decisão mandá-lo embora com um ar doente e exausto”, criticou.
Durante o debate de quinta-feira, Biden, de 81 anos, com voz rouca, apresentou uma prestação instável e hesitante, na qual tropeçou nas palavras em diversas ocasiões e, por vezes, não conseguiu terminar as frases, perdendo a linha de raciocínio - o que levantou preocupações com a sua idade. O adversário republicano, Donald Trump, proferiu uma série de falsidades, incluindo alegações de que tinha realmente vencido as eleições de 2020 - que Biden não conseguiu refutar.
Onda de apoio partidário
Vários líderes democratas, incluindo os ex-presidentes Barack Obama e Bill Clinton, demonstraram apoio a Joe Biden no domingo.
"Não se trata de desempenho em termos de um debate, mas de desempenho numa presidência", disse a deputada democrata Nancy Pelosi, ex-presidente da Câmara dos Representantes, ao programa "State of the Union" da CNN no domingo. "De um lado do ecrã temos integridade, do outro lado temos desonestidade", contrapôs, colocando o ónus nas mentiras contadas por Trump.
De acordo com uma sondagem da CBS News realizada nos dois dias após o debate, quase 75% dos eleitores registados acreditam que Biden não deve concorrer à presidência, incluindo 46% dos democratas.
Biden "absolutamente" não deve desistir da corrida, opinou o senador da Geórgia Raphael Warnock no programa "Meet the Press" da NBC no domingo. "O nosso trabalho é garantir que ele ultrapassa a linha de chegada em novembro. Não para o bem dele, mas para o bem do país", defendeu.
Na sexta-feira, Joe Biden tentou reprimir os comentários negativos com um discurso de campanha aceso na Carolina do Norte, no qual prometeu continuar a lutar. Apareceu acompanhado pela primeira-dama, Jill Biden, que defendeu o marido contra pedidos de renúncia.
"Naquele palco de campanha na Carolina do Norte eu vi um Joe Biden enérgico, envolvido e capaz", disse o senador democrata Chris Coons, do estado natal de Biden, Delaware, no programa "This Week" da ABC, no domingo. "Acho que teve um desempenho fraco no debate", admitiu, mas acrescentou que Trump, por sua vez, teve um "desempenho horrível em que, sim, falou com clareza, mas o que disse foi mentira atrás de mentira". Biden é "o único democrata que pode derrotar Donald Trump", rematou.