Figura do ano: Guterres, mediador destemido pela paz num Mundo fraturado pela guerra
O JN escolheu o secretário-geral das Nações Unidas, que tem exercido papel fulcral na luta contra as alterações climáticas e como interlocutor pelo cessar das hostilidades no conflito que reacendeu entre Israel e o Hamas.
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Depois da “diplomacia silenciosa” de Ban Ki-moon, António Guterres, apanhado que foi num tempo de convulsões sem paralelo na História recente, introduziu um registo de maior assertividade na liderança das Nações Unidas. Da bandeira da emergência climática, que assumiu desde o arranque do primeiro mandato, à intervenção e mediação pela paz num tempo de escalada de todas as tensões - da Ucrânia à flagelada Faixa de Gaza -, o secretário-geral da ONU dá sucessivas provas de não ceder à pressão de gigantes, quando importa assegurar a defesa de quem foi atirado à condição de total fragilidade.
Depois de confirmado que o mês de julho de 2023 foi o mais quente de que há registo, Guterres regressou de modo contundente a um tema que carrega desde que, em 2017, assumiu a liderança das Nações Unidas, ao avisar: “A era do aquecimento global terminou; a era da ebulição global chegou”.
Pouco depois, em setembro, o ex-primeiro-ministro português acolheu em Nova Iorque a Cimeira da Ambição Climática, para a qual convidou os líderes mundiais - ausentes estiveram os maiores poluentes Estados Unidos e China -, e onde assinalou, logo no discurso de abertura, a propósito das alterações climáticas, que a “humanidade abriu os portões do inferno”, tendo reiterado críticas às grandes empresas que tentam travar a transição energética, e pedido o fim das subvenções milionárias aos combustíveis fósseis.
Já na Cimeira do Clima (COP28), que decorreu no Dubai, o secretário-geral da ONU alertou: “Os sinais vitais da Terra estão a falhar: emissões recorde, incêndios ferozes, secas mortais e o ano mais quente de sempre. Estamos a milhas dos objetivos do Acordo de Paris - e a minutos da meia-noite para o limite de 1,5 graus. Mas não é demasiado tarde. É possível evitar o colapso e o incêndio do planeta”.
Atacado por Israel
Depois da intervenção crucial no decurso da guerra na Ucrânia, António Guterres vê entrar no seu segundo mandato à frente da ONU um novo conflito que implica gestão cirúrgica da diplomacia, com o reinstalar, numa escala sem precedentes, da guerra entre Israel e o Hamas, que tem flagelado a população da Faixa de Gaza.
Guterres suscitou a ira de Telavive quando, em outubro, numa sessão do Conselho de Segurança da ONU, assinalou que o ataque do Hamas, que condenou “nos termos mais fortes”, não ocorreu “num vácuo”, lembrando que “o povo palestiniano foi sujeito a 56 anos de ocupação sufocante” de Israel. Salientou, contudo, que tal não justifica a agressão do Hamas, mas que a “violência do Hamas não pode justificar a punição coletiva do povo palestiniano”. A diplomacia israelita apressou-se a pedir a demissão do secretário-geral, que não só não caiu como se mantém indefetível na defesa do cessar-fogo.
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