Cerca de 4,1 milhões de hectares – o equivalente à superfície da Suíça – de florestas tropicais virgens foram destruídos, no ano passado, à velocidade de onze campos de futebol por minuto, por incêndios, exploração de madeira, agricultura e mineração.
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Os dados, publicados nesta terça-feira, são de um estudo conjunto do Instituto de Recursos Mundiais (World Resources Instituto) e da Universidade de Maryland, dos Estados Unidos e confrontam os dirigentes mundiais com o risco de fracasso no compromisso de travar a destruição das florestas até 2030. Mais de 96% das perdas devem-se a causas humanas.
Em causa estão as florestas tropicais até agora intocáveis, com o desaparecimento de milhões de hectares de ecossistemas mais ricos em biodiversidade e mais eficazes na retenção de carbono, ao mesmo tempo que inúmeras comunidades indígenas são expulsas em vários países pelas indústrias extrativas.
Brasil no topo dos países que mais perdem
No topo dos países que mais perderam floresta tropical primária, surge, bem destacado, o Brasil, com nada menos de 1 772 689 hectares (ha), ou seja, 43% da destruição total, com um recuo de 15% entre 2021 e 2022.
O estudo salienta que aquela mancha perdida equivale a 1,2 gigatoneladas de emissões de dióxido de carbono, ou 2,5 vezes mais do que as emissões do Brasil resultantes da queima de combustíveis fósseis.
Bem evidentes são as ameaças a vários territórios indígenas Apyterewa, Karipuna e Sepoti, na Amazónia brasileira, que no ano passado registaram níveis recordes de perda de florestas primárias devido a invasões de terras, bem como pela mineração no território Yanomami.
Depois da liberalização (e até incentivo) da desflorestação da Amazónia pelo ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro (só no estado do Amazonas, que guarda metade da floresta intacta, a taxa de perda quase duplicou nos último três anos), o atual chefe de Estado, Luiz Inácio Lula da Silva, comprometeu-se atingir a desflorestação zero em 2030.
No início do ano, lançou uma grande operação de expulsão dos garimpeiros clandestinos. E está em marcha a Cimeira Pan-Amazónica, um encontro inédito dos presidentes dos nove países da Organização do Tratado de Cooperação Amazónica (OTCA), em 8 e 9 de agosto, em Belém
Em segundo lugar, afastado, surge a República Democrática do Congo, com 512 672 ha, seguindo-se a Bolívia, com 385 567, e a Indonésia, com pouco mais de 230 mil.
Improvável limitar o aquecimento global
Embora com uma área perdida em 2022 bem menor (18 mil hectares), o Gana, grande produtor de cacau, registou o maior aumento da área destruída, calculado em 71%. Seguem-se a Bolívia, em aceleração da perda em 59% e Angola (+52%).
Em contrapartida, vários países estão a conseguir reduzir as suas taxas de destruição, destacando-se a Indonésia, com diminuição em 64%, a Costa Rica (-63%), a China (-60%) e a Malásia (-57%).
A área global destruída representa um aumento de quase 10%, em relação a 2021 (3,7 milhões de hectares), da regressão de florestas tropicais virgens e a destruição de uma das mais eficazes ferramentas para mitigar o aquecimento global e conter a perda de biodiversidade no Planeta.
Recorde-se que as alterações do uso do solo são a segunda maior fonte de gases com efeito atmosférico de estufa, atrás da queima de combustíveis fósseis.
Por isso, os cientistas alertam que, se não for contida a destruição das florestas, será improvável conter o aquecimento global da Terra nos 1,5 graus Celsius a que os estados-parte da Convenção das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas estão comprometidos.
Na Conferência das Partes (vulgo Cimeira do Clima) de 2021, uma centena de chefes de Estado e de Governo comprometeram-se a travar e a reverter a desflorestação até 2030, uma meta para 90% das florestas do Mundo, mas os dados revelados são pouco animadores.