António Guterres, através do seu porta-voz, lamentou as recentes mortes junto de um centro de distribuição de alimentos no Sul da Faixa de Gaza. A Defesa Civil do enclave reportou 27 óbitos e mais de 90 feridos em ataque com tanques e drones israelitas.
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Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres, lamentou a “perda impensável de vidas em Gaza”. “É inaceitável que os civis estejam a arriscar e, em vários casos, a perder a vida apenas para tentar obter comida”, destacou.
“O secretário-geral continua a apelar a uma investigação imediata e independente destes acontecimentos e à responsabilização dos autoares”, sublinhou Dujarric, sem apontar culpados.
Pela segunda vez, ataques a tiro provocaram a morte de dezenas de palestinianos próximos ao centro de distribuição de alimentos da organização norte-americana apoiada por Israel, a Fundação Humanitária de Gaza, em Rafah. A Defesa Civil da Faixa de Gaza acusou as tropas de Telavive de abrirem fogo contra os civis com fome no Sul do enclave, resultando em 27 mortes e dezenas de feridos.
“Vinte e sete pessoas foram mortas e mais de 90 ficaram feridas no massacre contra civis que esperavam ajuda americana na zona de Al-Alam, em Rafah”, afirmou o porta-voz da Defesa Civil, Mahmud Bassal, à agência France-Presse. As mortes ocorreram “quando as forças israelitas abriram fogo com tanques e drones”.
O Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) informou que o hospital de campanha da organização em Rafah, com 60 camas, recebeu na manhã desta terça-feira um fluxo de 184 pacientes – 19 cujo o óbito foi declarado à chegada e mais oito que vieram a falecer pouco depois devido aos ferimentos. Os sobreviventes disseram, segundo o CICV, que tentavam “chegar a um local de distribuição de assistência”.
O tiroteio gerou “o maior número de pacientes feridos por armas de fogo recebidos num único incidente” desde a abertura do hospital da Cruz Vermelha, há mais de um ano. “A escala e a frequência sem precedentes dos recentes incidentes com vítimas em massa tratados no hospital de campanha são profundamente preocupantes e ilustram a realidade angustiante que os civis em Gaza estão a ser forçados a suportar”, acrescentou o CICV.
Um caso similar, no domingo, causou a morte de 31 pessoas próximas ao mesmo centro de distribuição. O local é administrado pelo Fundo Humanitário de Gaza, grupo recém-criado que tem trabalhado com Telavive para a implementação de um novo mecanismo para a distribuição de apoio ao território sob cerco. Tanto a ONU quanto diversas organizações humanitárias com experiência no terreno recusaram cooperar com a entidade norte-americana por causa da suspeita de que esta quer contribuir para os objetivos militares de Israel.
Telavive investiga
As Forças de Defesa de Israel alegaram que dispararam “tiros de advertência” após algumas pessoas que se deslocavam em direção ao centro de ajuda humanitária saíram da rota designada. “Após os suspeitos não recuarem, foram disparados tiros adicionais perto de alguns suspeitos individuais”, relataram.
O porta-voz militar, Effie Defrin, salientou, num discurso televisivo, que os “suspeitos... estavam a aproximar-se de uma forma que colocava em risco... a segurança dos soldados”. “O incidente está a ser investigado”, completou.