Rishi Sunak foi, esta terça-feira, indigitado por Carlos III, tornando-se, oficialmente, primeiro-ministro do Reino Unido. No primeiro, discurso ao país, o líder deixou várias promessas para o mandato que, se tudo correr bem, só termina em 2024.
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O novo líder do Partido Conservador já é primeiro-ministro do Reino Unido. Esta manhã, Rishi Sunak foi indigitado por Carlos III, após ter sido convidado pelo monarca a formar Governo. Seguiu viagem até Downing Street, onde fez o seu primeiro discurso à nação enquanto chefe do Executivo britânico.
Sem meias palavras, Sunak apontou que Liz Truss estava "certa em querer melhorar o crescimento económico" do Reino Unido , porém, acredita que o método da antecessora não foi o melhor. Comprometeu-se, por isso, a "consertar os erros" que foram cometidos pelo anterior Governo.
"O nosso país está numa crise económico profunda", destacou Sunak, referindo que quer "começar a trabalhar imediatamente" de modo a trazer estabilidade ao país o mais rápido possível. "A crise da covid-19 ainda tem impacto e a guerra de Putin mexeu com os mercados", frisou, antecipando que "decisões difíceis estarão por vir".
Para o futuro, o novo rosto do poder prometeu: "Um NHS [equivale ao SNS português] mais forte, melhores escolas, ruas mais seguras, controlo das fronteiras, proteção do meio ambiente, apoio às forças armadas e um equilíbrio e construção de uma economia que abrace as oportunidades do Brexit, onde as empresas investem, inovam e criam empregos".
Embora admita que chega a Downing Street num momento particularmente difícil para o país, Sunak disse que não está "assustado" com a herença que assumiu, garantindo que se irá empenhar para "restaurar a confiança" dos britânicos, colocando "as necessidades acima da política".
O discurso do líder terminou com uma mensagem de segurança: "Criaremos um futuro digno dos sacrifícios que tantos fizeram e vamos encher o amanhã, e todos os dias seguintes, com esperança", afiançou.
"Foi uma grande honra ser primeira-ministra"
Minutos antes de Sunak reunir com Carlos III no Palácio de Buckingham, também Liz Truss marcou presença na residência oficial do rei de Inglaterra, onde se encontrou com o monarca, cumprindo uma formalidade constitucional, que é habitual no término de mandato de todos os primeiros-ministros. A conservadora informou o soberano da sua decisão que, segundo um comunicado oficial do Palácio, foi aceite.
Antes do encontro, Liz Truss fez o último discurso em frente ao icónico número 10. "Foi uma grande honra ser primeira-ministra do Reino Unido e ser a última a governar com a rainha Isabel II", assegurou
A governante demissionária enalteceu ainda o trabalho realizado no mês e meio em que esteve no cargo. "Em pouco tempo, este Governo agiu de forma urgente e decisiva ao lado de famílias e empresas trabalhadoras", recordou, referindo-se ao miniorçamento que delineou em conjunto com o anterior ministro das Finanças, Kwasi Kwarteng.
Num curto discurso, Truss olhou ainda para o futuro, lembrando que o Reino Unido "não se pode dar ao luxo de ser um país de baixo crescimento", frisando que é necessário "aproveitar as nossas liberdades do Brexit". Desejando todo o "sucesso" a Rishi Sunak, a conservadora deixou ainda uma mensagem: "Precisamos ser ousados e enfrentar os desafios", frisou, voltando a enaltecer as suas convicções de que é essencial descer os impostos de modo "a que as pessoas possam ficar com mais do dinheiro que ganham".
No Reino Unido, as palavras de Truss já estão a ser observadas à lupa e, para muitos analistas, as declarações da conservadora foram uma forma de "encobrir as derrotas" efetuadas ao longo dos 45 dias em que liderou o país.
A editora de política da "Sky News", Beth Rigby , considera que a ex-primeira-ministra, tal como o antecessor, opta sempre por se concentrar nos sucessos alcançados. "Não me surpreende que Liz Truss tenha sido como Boris Johnson ao falar sobre as suas vitórias e encobrindo as derrotas", comentou a jornalista, acrescentando que Rishi Sunak é "um tipo de político diferente".
Quem fica e quem sai?
Nem uma semana após se demitir do cargo de primeira-ministra, aquela que ficou conhecida como a nova "dama de ferro" do país, passou o testemunho a Rishi Sunak, colega de partido que, ironicamente, em setembro passado, derrotou nas eleições dos conservadores.
Sunak foi anunciado como o novo Partido Conservador depois de mais nenhum colega se ter candidatado ao cargo. Inicialmente, os nomes de Boris Johnson e Penny Mordaunt ainda foram apontados como possíveis rivais, mas acabaram por desistir, abrindo caminho para a ascensão daquele que é o primeiro líder britânico de ascendência asiática.
O novo rosto do poder deverá começar a formar Governo esta ainda terça-feira, esperando-se que convide a permanecer no leque governativo alguns dos atuais ministros. Os dois últimos primeiros-ministros priorizaram a lealdade na hora de fazer escolhas, mas, de acordo com os jornais britânicos, Sunak deverá ter como principal motivador de seleção a competência.
De acordo com a imprensa britânica, Jeremy Hunt, ministro das Finanças, e Ben Wallace, ministro da Defesa, devem continuar nas rédeas destas tutelas. Já Suella Braverman, que na semana passada decidiu abandonar o cargo de ministra do Interior, também deverá contar com um lugar no novo Executivo. Ainda assim, é provável que a maior parte da equipa de Truss seja eliminada ou colocada em outros cargos.
Desejo de mudança
Apesar de, no geral, os conservadores se mostrarem satisfeitos com a ascensão de Rishi Sunak, a nomeação do antigo ministro das Finanças tem um grande peso, numa altura em que o país se encontra mergulhado numa enorme crise económica.
Perante o caos deixado por Truss, e depois de uma liderança de mais de 10 anos do Partido Conservador, a oposição é unânime a pedir novas eleições gerais e o desejo de mudança política é transversal à maior parte da população.
Segundo uma sondagem realizada pela YouGov na segunda-feira, 56% dos inquiridos consideraram que era primordial a convocação de um escrutínio antecipado no Reino Unido, tendo em conta que as próximas eleições programadas só deverão acontecer em janeiro de 2025.
Em reação à nomeação de Sunak, Keir Starmer, líder do Partido Trabalhista, lançou duras críticas. "Foi o ministro das Finanças que deixou a Grã-Bretanha a enfrentar o menor crescimento de qualquer país desenvolvido, a inflação mais alta e milhões de pessoas preocupadas com as suas contas", recordou, antecipando que o conservador "será um primeiro-ministro fraco que terá de colocar o seu partido em primeiro lugar e o país em segundo".