Recondução de Suella Braverman ao cargo de ministra do Interior, após demissão, colocou Rishi Sunak numa posição difícil na primeira prova de fogo do seu mandato, que ocorreu, esta quarta-feira, na Câmara dos Comuns. Novo plano fiscal só será apresentado ao país dia 17 de novembro, informou o ministro das Finanças.
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A primeira sessão na Câmara dos Comuns como primeiro-ministro do país ficou marcada por um assunto que está a causar indignação entre a oposição, menos de 24 horas após a formação do novo Executivo britânico: a recondução de Suella Braverman ao cargo de ministra do Interior, depois de a conservadora se ter demitido do Executivo de Truss ao fim de 39 dias na Tutela, alegando que cometeu um "erro" que colocou a segurança do Ministério em causa.
Keir Starmer, líder do Partido Trabalhista, abriu as hostilidades e não perdeu tempo em questionar o novo rosto de Downing Street sobre a renomeação. "A ministra do Interior cometeu um erro, mas reconheceu o que se passou e aceitou a sua falha", respondeu Sunak, defendendo a colega de Governo.
Não satisfeito com a justificação, Starmer apontou o dedo ao líder dos Conservadores, recordando que se comprometeu a formar um Governo "íntegro, profissional e responsável", porém, acabou por "nomear uma ministra que foi demitida pela antecessora por vasculhar documentos confidenciais do Ministério do Interior através da conta pessoal".
Sunak ripostou com a notícia de que "mais de 15 mil novos polícias" estão prontos para salvaguardar a segurança das ruas do país e que a "ministra do Interior os apoiará para combater o crime".
Ainda assim, Ian Blackford, líder do Partido Nacional Escocês (SNP), acusou Sunak de nomear Suella Braverman para o Ministério do Interior devido a um "acordo de bastidores desprezível" para reforçar a própria posição.
A indignação pela ascensão de Braverman já tinha sido manifestada por outros trabalhistas antes da sessão na Câmara dos Comuns.
Bridget Phillipson, deputada do Partido Trabalhista, considerou, em declarações à rádio BBC, que a nomeação da ministra mostra "tudo o que se precisa saber sobre este Governo", lançando farpas ao primeiro-ministro. "Num momento Sunak está a dizer que vai liderar um Executivo de integridade e, em outro momento, está a nomear alguém que se demitiu na semana anterior por uma grave violação de segurança", sustentou.
Jeremy Hunt, renomeado ministro das Finanças, apressou-se em defender a colega, lembrando, tal como Sunak, que esta "já se desculpou pelos seus erros". Já James Cleverly, que transitou do Executivo de Truss como ministro dos Negócios Estrangeiros, reforçou que Suella está agora "focada em reprimir o crime, proteger as fronteiras e garantir que o Ministério do Interior funcione bem".
O facto de Sunak ter ascendido ao cargo de primeiro-ministro sem a realização de eleições antecipadas, também tem motivado duras críticas. O líder dos trabalhistas acusou Sunak de "fazer um acordo sujo", colocando a estabilidade nacional em causa porque estava "com medo de perder" um eventual escrutínio.
"A inflação é inimiga"
Com o líder da oposição a acusar o primeiro-ministro de "fingir que se preocupa com os mais pobres", Sunak assegurou que vai dar assistência "aos mais vulneráveis", porém, não se comprometeu com um aumento dos beníficios fiscais, admitindo que a "inflação é inimiga".
Questionado sobre possíveis mudanças no âmbito climático, o líder respondeu que vai manter o que estava no manifesto conservador de 2019, ano que em Boris Johnson chegou ao poder, realçando que a importância do Governo em se focar na "segurança energética a longo prazo", o que inclui o uso de energias renováveis.
Embora tenham criticado a ascensão de Sunak a primeiro-ministro, os partidos da oposição felicitaram o novo inquilino do número 10, enaltecendo a importância histórica do país ter um chefe de Governo com origens asiáticas e indianas. "É um momento significativo na nossa história nacional", admitiu Keir Starmer antes da sessão de perguntas no Parlamento ter começado.
À semelhança do que aconteceu esta quarta-feira com Sunak, também Liz Truss compareceu na Câmara dos Comuns um dia após indigitada pela rainha Isabel II, onde apresentou um plano de dois anos para fazer face à crise energética que o Reino Unido está a viver.
Apresentação do plano fiscal adiada
Ao contrário do que tinha sido adiantado pela imprensa britânica, após a indigitação do primeiro-ministro, o novo plano fiscal só será apresentado ao país dia 17 de novembro, e não na próxima segunda-feira.
Jeremy Hunt, ministro das Finanças que transitou do Governo de Truss, informou, que em conjunto com o chefe do Executivo, decidiu adiar a apresentação do plano para que tenha mais tempo para analisar as previsões económicas.
"A minha prioridade número um é a estabilidade económica do país. Por isso, o plano fiscal de médio prazo é extremamente importante. É essencial que esta declaração se baseie nas previsões económicas o mais precisas possível e nas previsões das finanças públicas", revelou, detalhando que já informou o Banco de Inglaterra de que esta "é a melhor forma de garantir que as decisões corretas são tomadas".