França vai julgar 14 homens envolvidos na morte de 31 migrantes no Canal da Mancha

Pelo menos 27 migrantes morreram no Canal da Mancha em 2025
Foto: Sameer Al-Doumy / AFP
O Ministério Público francês quer levar a julgamento 14 membros de redes de tráfico envolvidos na morte de 31 migrantes no Canal da Mancha, disse esta sexta-feira uma fonte próxima do caso, segundo a agência de notícias France-Presse.
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Os homens são suspeitos de terem "participado, cada um à sua escala, em redes de imigração ilegal que cooperavam entre si para obter cada vez mais lucros com estrangeiros em situação irregular que desejavam passar para a Inglaterra", segundo a mesma fonte.
Em causa está o naufrágio em 24 de novembro de 2021 de "um pequeno barco de má qualidade, não homologado, impróprio para navegar em alto mar, sobrecarregado e sem coletes salva-vidas adequados" que naufragou na fronteira entre as águas francesas e britânicas, adiantou o Ministério Público francês.
Posteriormente foram encontrados os corpos de 17 homens, sete mulheres, dois adolescentes e uma criança de 7 anos.
O Ministério Público solicitou uma audiência para estes 14 homens, com idades entre os 24 e os 45 anos, a maioria dos quais nascidos no Afeganistão e no Iraque, que podem ser julgados por homicídio involuntário, mas também por lesões involuntárias, ajuda ilegal à permanência e associação a grupos criminosos. A decisão final cabe ao juiz de instrução.
Por motivos processuais, este processo foi separado de um segundo, muito sensível, envolvendo pelo menos sete militares franceses, acusados de não prestar socorro a pessoas em perigo.
O Ministério Público atribui diversos papéis aos arguidos, que são acusados de organizarem a travessia e outros de transportarem as pessoas de carro e de as alojarem.
A maioria dos arguidos contesta a sua responsabilidade, tendo alguns, do lado iraquiano-curdo, se apresentado como simples migrantes.
Doze dos arguidos estão em França: 11 sob controlo judicial, enquanto um, detido em meados de 2024, continua preso.
Três dos acusados, no entanto, poderão escapar a um julgamento em França, incluindo os dois principais líderes de cada rede, estando um em parte incerta e outro homem, iraquiano, está detido pelas autoridades do seu país.
Para o Ministério Público, a investigação concluiu que "esta catástrofe, sem precedentes no Canal da Mancha devido à sua magnitude, é consequência de múltiplas falhas materiais e humanas, causadas por indivíduos movidos pela ganância".
As vítimas "eram provenientes do campo de migrantes apelidado de "a selva" de Grande-Synthe" e tinham pago uma quantia "exorbitante" pela travessia.
A partir de 2018, o fenómeno das travessias do Canal da Mancha em pequenas embarcações está na origem de numerosos naufrágios.
Pelo menos 27 migrantes morreram em 2025, de acordo com uma contagem da AFP com base em dados oficiais.
