Numa sessão plenária do Parlamento Europeu marcada pela guerra na Ucrânia, o JN entrevistou eurodeputados portugueses sobre as exigências e as consequências do conflito militar no futuro da União Europeia (UE). Francisco Guerreiro, deputado independente que integra os Verdes europeus, diz que os jovens da Ucrânia têm motivado a aproximação do país ao espaço comunitário.
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Qual deve ser o papel e a intervenção do Parlamento Europeu perante a guerra na Ucrânia?
Temos de caminhar para a transição que tem dificultado a geopolítica europeia, que é a extrema dependência das importações russas, designadamente do petróleo, do gás e de alguns minérios. Depois, é preciso garantir que os países que querem a integração europeia têm o caminho aberto politicamente. Infelizmente, muitos têm tido uma batalha difícil, porque havia muitas resistências por parte da União Europeia. A parte mais pragmática do meu trabalho, de apoio à comunidade ucraniana, é garantir que o próximo orçamento anual de 2023 ajuda na integração dos refugiados, na educação e no apoio social e financeiro à reconstrução ou à resistência.
Quais os desafios para a União Europeia a médio e a longo prazo?
Claramente há mais união entre os Estados-membros. Há também dificuldades porque os países na linha de fronteira com a Ucrânia estão mais expostos a fluxos migratórios. São necessárias políticas de integração de refugiados, garantir a estabilidade geopolítica da próxima década e que a UE caminhe para a independência energética. Está em segundo plano, mas é um problema que nunca deve ser esquecido: as alterações climáticas. No geral, é preciso uma visão transformadora do que é o projeto europeu: um projeto de paz e de apoio económico, social e cultural. Sem esquecer, claro, que cada país tem as suas multiplicidades e pluralidades.
Como fica a relação da UE com a NATO?
A relação mantém-se sólida. Poderá haver alguma pressão para que outros países entrem na NATO, embora daí possam advir consequências geopolíticas. É evidente que a NATO não é responsável por esta guerra. Está a ser usada como um bode expiatório numa invasão motivada por recursos petrolíferos, gasíferos e aquíferos. Podemos criticar o papel que a NATO teve em algumas ações, mas não deixam de ser estados democráticos [Ucrânia] contra oligarquias [Rússia].
O que considera dos recentes pedidos de adesão à União Europeia de países como a Ucrânia, a Geórgia e a Moldávia?
Já se sabia pela História recente que havia essa necessidade. A UE percebeu a importância de integrar estes países. Não só para melhorar os seus sistemas democráticos, mas também para terem acesso a uma série de recursos, que só são acessíveis no mercado único. É fundamental caminhar sensatamente para a adesão destes Estados-membros, sabendo que isso traz também riscos geopolíticos, que devem ser encarados com naturalidade. Não devemos apressar o processo. Na Ucrânia, as mudanças são de aproximação aos valores europeus e a uma democracia baseada no Estado de direito, muito motivada pela intervenção dos jovens.