Uma comunidade de freiras em Espanha separou-se do Vaticano devido a um litígio imobiliário e confirmou, esta sexta-feira, o desejo "irreversível" de abandonar a Igreja, abrindo caminho à excomunhão.
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O grupo de 16 freiras vive num convento do século XV em Belorado, no norte de Espanha, e está agora a separar-se da Igreja Católica por a instituição ter bloqueado a sua tentativa de comprar outro convento.
A comunidade acusou o Vaticano de "caos doutrinal" e de "contradições" nas posições sobre questões de fé, na carta de 13 de maio em que anunciou a separação, publicada nas redes sociais e assinada pela madre superiora da ordem, a irmã Isabel de la Trinidad.
As freiras anunciaram que estavam agora sob a jurisdição do padre excomungado Pablo de Rojas Sanchez-Franco, conhecido pelas suas opiniões ultraconservadoras.
O padre lidera a União Devota do Apóstolo São Paulo, um grupo religioso considerado uma seita pela Igreja Católica, e apresenta-se como bispo, aparecendo em público com vestes episcopais.
Sanchez-Franco apoia o sedevacantismo, um movimento que defende que todos os papas desde Pio XII, que morreu em 1958, são hereges e que não existe atualmente nenhum pontífice válido.
O arcebispo de Burgos, Mario Iceta, que em 2019 excomungou Sanchez-Franco, expressou "perplexidade" em relação à decisão das freiras.
A Igreja disse às freiras para comparecerem perante um tribunal eclesiástico até esta sexta-feira e confirmarem a sua decisão de se separarem, o que poderia levar à excomunhão - uma medida que as privaria de certos sacramentos, como a confissão.
As freiras não compareceram em tribunal mas afirmaram, numa declaração enviada para o gabinete do arcebispo, que deram a conhecer o seu "desejo unânime e irreversível" de deixar a Igreja.
A decisão é "fruto de uma reflexão madura, meditativa e consciente, que foi validada por todas" as freiras da comunidade, acrescentaram na declaração publicada nas redes sociais, realçando que estavam a agir "livre e voluntariamente".
As freiras afirmaram não reconhecer o tribunal e classificaram o processo contra elas uma "farsa".
"Aquele que ama verdadeiramente Deus não ama verdadeiramente se não tiver o desejo ardente e constante de sofrer por Ele", escreveram.
Até à data, os responsáveis da Igreja ainda não reagiram publicamente a esta declaração.