Bruno Le Maire. Qual? O escritor, ou o ministro? De repente, o nome do ministro Francês da Economia e Finanças tornou-se quase omnipresente no espaço público - redes sociais e órgãos de informação - por causa de meia página de um livro acabado de publicar. No fundo, é mais um entre a dezena e meia que já publicou desde 2004.
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Mas este livro - "Fugue Américaine" ("Fuga Americana), um romance, contém uma breve passagem erótica, que os detratores dizem tender para a pornografia e perguntam se o ministro não tem mais nada para fazer senão escrever livros, ele que tem a França em tumultos há meses, por causa da contestada reforma das pensões pela qual dá a cara, e que tem a tutela de uma área governativa que levou a agência Fitch a baixar - por coincidência, poucas horas após a apresentação do livro - a notação do país no mercado de crédito.
"Numa época em que os franceses estão preocupados com a inflação, é normal que dedique um minuto ou uma hora a escrever romances com conteúdo erótico?", questionou o deputado François Ruffin, da bancada A França Insubmissa. Le Maire respondeu, em entrevistas a vários órgãos de informação e na sua conta no Twitter: "Algumas pessoas vão a museus, cinemas, espetáculos, ao futebol. Outros fazem jardinagem ou caminhadas. Quanto a mim, escrevo".
Publicado no final de abril com a chancela da prestigiada editora francesa Gallimard (que lhe estampou já vários outros livros), "Fuga Americana" - o 13.º livro de Le Mair - é dedicado ao famoso pianista Vladimir Horowitz. O ministro, note-se, é um melómano bem informado: na narrativa "Paul", de 2019, mostra como a música e a literatura o influenciam, segundo o resumo da obra publicado nos sítios de várias livrarias.
Uma cena de sedução em Havana
A obra em causa conta a viagem dos irmãos Franz e Oskar Wertheimer a Havana, para assistirem a um concerto do lendário Horowitz na capital cubana, em 1949. O primeiro destina-se a uma carreira de pianista e o irmão a ser médico. Adiante: a certa altura do romance, surge uma breve cena de sedução erótica entre Oskar e uma bela cubana, objeto de críticas severas e jocosas no espaço público, segundo narra a imprensa.
Olivier Dussop, ministro do Trabalho e Assuntos Sociais no governo recentemente tocado pelo pequeno escândalo da aparição da ministra da Economia Social, Marlene Schiappa, na revista "Playboy", embora quase toda vestida, não leu o livro, mas comentou à estação BFMTV, citado pela agência France Presse (AFP), que "isso mostra que há sentimentos... por trás dos ministros". Acrescentou, contudo, que leu a passagem polémica e que esta "o fez sorrir".
Le Mair, entrevistado pela AFP, diz que não tem qualquer problema com dupla carreira - literária e política - pois, explicou, "se houvesse apenas política - sem a liberdade que dá a criação literária e romântica - a política não seria suficiente".
O ministro, que tem uma larga carreira pública em cargos na Administração e de conselheiro de ministros, tendo desempenhado vários cargos governamentais desde 2009, antes de tornar-se ministro da Economia, das Finanças e da Soberania Industrial e Informática, em maio de 2022, e tem escrito sobretudo obras das áreas política e económica, narrativas e memórias, não é um caso "literário" inédito.
A AFP dá o exemplo do antigo presidente Valery Giscard d"Estaing, que, na reforma, "ganhou uma tendência para escrever romances picantes", incluindo "A princesa e o presidente" (2009), cuja trama roda em torno de um "afair" entre um dirigente francês e uma princesa britânica (Diana de Gales?). Já o ex-primeiro ministro Edouard Philippe, visto como um eventual sucessor do presidente Emmanuel Macron, é co-autor de dois "trillers"...