Funcionários afegãos da ONU em protesto por talibãs proibirem mulheres de trabalhar
As Nações Unidas anunciaram que os seus 3300 funcionários, homens e mulheres, afegãos ficaram em casa, pelo segundo dia, esta quinta-feira em protesto pela decisão do regime Talibã de proibir as mulheres de trabalharem na organização.
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Os talibãs emitiram no inicio da semana uma ordem que proíbe as mulheres afegãs empregadas pelas Nações Unidas (ONU), até agora isentas destas restrições, de trabalharem em qualquer lugar no Afeganistão.
"Fomos informados por diferentes canais que a proibição se aplica a todo o país", revelou na terça-feira Stéphane Dujarric, porta-voz da ONU, denunciando uma decisão "inaceitável e francamente inconcebível".
O Conselho de Segurança da ONU realizou uma reunião de emergência sobre a ação dos talibãs e insistiu nos apelos para que a proibição seja revogada.
O porta-voz da ONU, Stephane Dujarric, reiterou a insistência da ONU de que todos os funcionários da organização são necessários para fornecer ajuda vital a milhões de pessoas e sublinhou novamente que "as mulheres afegãs não serão substituídas por homens" ou por mulheres de outras nacionalidades.
Culturalmente, explicou, é sempre melhor ter nacionais de um país a prestar ajuda à sua população local.
A ONU tem cerca de 3900 funcionários no Afeganistão, incluindo aproximadamente 3300 afegãos e 600 internacionais. Do total, 600 são mulheres afegãs e 200 mulheres de outros países.
Na reunião do Conselho de Segurança da ONU, os membros foram informados pela representante especial do secretário-geral para o Afeganistão, Roza Otunbayeva, que liderou conversações na quarta-feira com o ministro dos Negócios Estrangeiros dos talibãs, Amir Khan Muttaqi, para pedir a reversão da decisão.
O embaixador da Rússia na ONU, Vassily Nebenzia, atual presidente do conselho, disse em declarações aos jornalistas que "todos ficaram chocados com a decisão que o governo Talibã tomou".
"A questão é como abordá-lo, e concordámos em trabalhar numa forma dentro do Conselho (...) o que seria útil e equilibrado", disse.
O vice-embaixador dos EUA, Robert Wood, declarou que o governo Biden vê a proibição "basicamente como mais um esforço do regime Talibã para apagar mulheres e meninas afegãs da sociedade".
Na quarta-feira, as Nações Unidas classificaram a proibição como uma violação "sem paralelo" dos direitos das mulheres, ilegal à luz do direito internacional e inaceitável para os 193 membros da organização internacional.
A decisão dos talibãs suscitou a condenação das organizações internacionais mais reconhecidas e, na quinta-feira, mais de uma dúzia de especialistas da ONU também exigiram a reversão imediata da proibição.
Apesar das promessas iniciais de um governo mais moderado do que durante a sua passagem anterior pelo poder na década de 1990, os talibãs impuseram duras medidas desde que reassumiram o poder no país, em 2021, quando as forças dos EUA e da NATO se retiraram do Afeganistão após duas décadas de guerra.