Uma ordem talibã proibiu as mulheres afegãs, de todo o país, de trabalharem para as Nações Unidas. António Guterres descreve a ordem como "inaceitável e francamente inconcebível".
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Apesar de os talibãs terem informado a ONU informalmente pela via verbal, ainda não houve nenhuma comunicação por escrito sobre a decisão. No entanto, a organização internacional já transmitiu aos seus funcionários afegãos, tanto mulheres como homens, para não se apresentarem no trabalho durante 48 horas, até que haja um entendimento concreto sobre o assunto. A ONU vai reunir-se já esta quarta-feira, com o Governo de Cabul para clarificar esta nova interdição.
Desde que os talibãs retomaram o poder no Afeganistão em 2021, tem havido uma crescente repressão às liberdades das mulheres, de que são exemplos o impedimento de crianças e adolescentes frequentarem as escolas e universidades, a obrigação de as mulheres saírem de casa com burca e, em caso de viagens de mais de 72 quilómetros, acompanhadas por um familiar homem.
"Este é o assunto mais recente e perturbador que está a atormentar a capacidade das organizações humanitárias de ajudar os mais necessitados", referiu um porta-voz da ONU.
Para António Guterres, tal proibição é "inaceitável e francamente inconcebível". O secretário-geral da ONU recorda ainda que, "dada a sociedade e a cultura" no Afeganistão, "são precisas mulheres para ajudar mulheres", entre as mais prejudicadas pela enorme crise humanitária no país, tendo em conta que, em muitas regiões, não é bem visto aos olhos dos talibãs que homens atendam mulheres e vice-versa.
Segundo a ONU, as trabalhadoras desempenham um papel fundamental, particularmente na identificação de outras mulheres necessitadas. "Se essa medida não for revertida, inevitavelmente prejudicará a nossa capacidade de fornecer ajuda e salvar vidas", escreveu o secretário-geral, numa publicação no Twitter.