Comboios AVE ligam Vigo a Madrid em quatro horas, a partir desta segunda-feira, com abertura do troço entre Zamora e Ourense.
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A centralização dos transportes em Espanha ainda impede que a grande parte das autonomias periféricas desfrutem de uma linha ferroviária de qualidade em pleno século XXI. Depois de 20 anos de promessas e anúncios por cumprir, as reivindicações da Galiza para a construção de uma ligação direta de alta velocidade para Madrid convertem-se hoje em realidade, com a inauguração do trajeto Pedralba da Pedreria em Zamora e Ourense.
A execução do último troço de 119 quilómetros, no qual se investiram quase três mil milhões de euros, permite a chegada definitiva dos comboios do AVE até uma região caracterizada pela abrupta orografia que obrigou à construção de trinta túneis e vinte viadutos atrasando ainda mais um processo histórico. Tão importante é este passo para Espanha que o primeiro-ministro, Pedro Sánchez, e o rei, Felipe VI, farão a primeira viagem institucional da linha de alta velocidade entre Madrid e Ourense.
A estação da cidade galega servirá como ponto de união entre as cidades da região -Vigo, Lugo, Santiago, Pontevedra e Corunha -, e a capital do país. "Trouxeram a alta velocidade até as portas da Galiza, mas a zona norte da região continuará sem uma linha ferroviária eficaz e de qualidade. Os cidadãos de Lugo ou Ferrol não vão sentir a melhoria e continuarão usando o carro ou o avião", explica Manuel del Rio, presidente da Associação Ferrol, terra de amigos do comboio. A Câmara Municipal de Vigo também não ficou completamente satisfeita com a chegada do AVE à Galiza e reivindica a criação de uma linha direta entre Vigo-Pontevedra e Ourense por Cerdedo, sem a necessidade atual de viajar até Santiago.
Menor tempo de viagem
As melhorias técnicas das novas viaturas de alta velocidade permitem reduzir entre 54 minutos e 1 hora e 28 minutos os tempos das viagens entre Galiza e Madrid segundo os dados da Renfe. Ourense será a cidade mais beneficiada pelo AVE, já que ficará a apenas 2 horas e 15 minutos da capital, a metade de Vigo, que estará a mais de quatro horas, uma hora menos que até então. Porém, a duração do percurso ainda será inferior no próximo verão, quando aRenfe introduzir na frota os comboios Avril de Talgo que ultrapassarão os 300 quilómetros por hora, graças a uma tecnologia inovadora no mercado europeu.
Os portuenses que queiram viajar até Madrid de comboio deverão passar mais de seis horas dentro de uma carruagem, tendo sempre de fazer transbordo em Vigo. "É preciso uma ampliação da alta velocidade entre Vigo e o Porto para finalmente ser rentável o eixo do Atlântico que liga Galiza ao Algarve", critica Del Rio sobre o projeto que deve estar finalizado antes de 2040, segundo o calendário anunciado pela União Europeia.
Para promover a nova linha de alta velocidade galega, a Renfe colocou à venda mais de 250 mil bilhetes a 15 euros para serem usados entre o 22 de dezembro e 12 de setembro de 2022, que esgotaram em pouco tempo.
A aposta ferroviária na Galiza também inclui o serviço AVLO, conhecido pelos preços reduzidos. "Este comboio tenta atrair gente jovem para poder tirar veículos das estradas e incrementar a quota ferroviária", explicou o presidente de Renfe Isaias Tabóas, durante uma jornada da Associação de Empresários Galegos em Madrid.
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Mais e melhor oferta
Além da rapidez, os galegos poderão viajar até Madrid com mais e melhores frequências. Ourense passa de 6 a 10 serviços diretos diários, Vigo de 4 a 8, metade dos quais diretos, enquanto Santiago e Corunha duplicam as ligações à capital.
Nove mil milhões
Espanha investiu quase nove mil milhões de euros na construção do AVE até à Galiza desde a organização do primeiro ato institucional em 2001, quando o primeiro-ministro, José María Aznar, e o presidente galego, Manuel Fraga, colocaram a primeira peça da linha.
Turismo é o foco
O Governo da Galiza acredita que a alta velocidade impulsionará o turismo na região, durante o ano Xacobeo, e que ajudará à promoção da candidatura da Ribeira Sacra a Património Mundial.