CP diz não ter capacidade, de momento, para preservar todas as composições históricas ali estacionadas. Presidente da Câmara de Gaia teme que a degradação seja irreversível.
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Um conjunto de velhas locomotivas estão a apodrecer na estação das Devesas, em Vila Nova de Gaia, sem que haja uma data prevista para a sua retirada ou eventual recuperação.
A CP - Comboios de Portugal diz que o objetivo é "preservar o património histórico ferroviário", mas admitiu que, "de momento, não dispõe dos meios humanos e materiais necessários" para recuperar todas as velhas locomotivas parqueadas nas Devesas. A empresa tem a expectativa de dar destino às composições, mas admite que por enquanto nada está definido.
Em reunião de Executivo, o presidente da Câmara de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues, disse "lamentar" o impasse e adiantou que o argumento da CP é que "não há dinheiro". O autarca teme que as antigas máquinas "fiquem a apodrecer, até ser irreversível".
Eduardo Vítor Rodrigues revelou que a Câmara tem falado com frequência com a CP e não pôs de parte a hipótese de aproveitar uma ou outra composição para integrar o futuro Museu da Cidade, a edificar no espaço onde esteve sediada a Cerâmica das Devesas. No entanto, advertiu que tem de ser a empresa pública de transportes ferroviários "a dar o pontapé de saída" no processo.
Só uma irá para o museu
Ao JN, a CP afirmou que as locomotivas estacionadas, com visíveis sinais da antiguidade e do desgaste do tempo de paragem, "têm sido objeto de avaliação" e que "três delas estiveram reservadas para protocolar com a Fundação do Museu Nacional Ferroviário, que elegeu apenas uma dessas unidades".
Foi ainda assinalado que "outras duas estão a ser utilizadas para aproveitamento de peças para a manutenção do comboio histórico do Douro, que é tracionado também a vapor".
A empresa sublinhou que "tem feito um sério investimento na recuperação de material circulante" e que "a prioridade tem recaído em veículos ferroviários (locomotivas, automotoras e carruagens) que podem ser utilizados no reforço do material necessário à realização dos comboios de passageiros que a CP diariamente coloca em circulação para prestar o serviço essencial de transporte público".
Não existe decisão final
Reconhecendo a falta de meios, advertiu que "não existe uma decisão final sobre o destino a dar às restantes locomotivas [nas Devesas, Gaia], porque a CP não perdeu a expectativa de poderem vir a ter um destino que contribua para a preservação do património ferroviário português".
Enquanto dura a espera, a camada de ferrugem vai aumentando. Algumas das locomotivas têm inscrita a palavra "museu", porém, como admite a empresa, tudo é incerto.
A saber
Comboio a vapor de volta ao Douro
Em novembro de 2021, a CP anunciou que o comboio histórico do Douro, com locomotiva a vapor, iria retomar a atividade em 2022. O percurso é feito entre o Peso da Régua e o Tua, com paragem no Pinhão. Agrada bastante aos turistas.
Devesas é chave para o metro
A nova linha de metro que unirá Santo Ovídio, em Gaia, à Casa da Música, no Porto, terá nas Devesas uma estação e um ponto-chave. A linha, em projeto, terá uma nova ponte sobre o rio Douro e será vital para as cidades, desanuviando também a procura na linha Amarela.