
Entre as vítimas mortais do conflito estão mais de 200 profissionais da comunicação social, a maioria palestinianos
Foto: Haitham Imad / EPA
"Um jornalista assassinado em pleno exercício da profissão é uma das infâmias mais atrozes", sublinha a organização, no dia em que decorre um bloqueio coordenado das primeiras páginas das transmissões de mais de 200 órgãos de média de 50 países.
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A Associação de Editores Europeus, Ibero-americanos e das Caraíbas (EditoRed) condenou esta segunda-feira a escalada de violência em Gaza, classificando-a como "uma mancha indelével na história contemporânea" e denunciando de forma particular o assassinato de jornalistas no exercício da profissão.
De acordo com dados citados pela associação, provenientes de organizações como o Comité para a Proteção de Jornalistas (CPJ), Repórteres sem Fronteiras (RSF) e Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), o conflito desencadeado em 7 de outubro de 2023 já terá provocado mais de 64 200 mortos, cerca de 159 mil feridos e 14 400 desaparecidos entre palestinianos e israelitas. Entre as vítimas estão mais de 200 profissionais da comunicação social, a maioria palestinianos.
Protesto editorial em 50 países
Coincidentemente, também neste arranque da semana, mais de duas centenas de órgãos de comunicação de 50 países bloquearam as primeiras páginas e interrompem as transmissões, exigindo o fim do assassínio de jornalistas em Gaza e acesso ao enclave. Organizada pela RSF, pelo movimento de campanhas Avaaz e pela Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), a ação foi apresentada como o primeiro "protesto editorial em grande escala" da história moderna coordenado em simultâneo por redações em todos os continentes.
"A verdade não pode ser silenciada"
No seu comunicado, a EditoRed sublinha que "um jornalista assassinado em pleno exercício da profissão é uma das infâmias mais atrozes", a par da morte de civis e de voluntários humanitários. A associação denuncia ainda a escassez de alimentos em Gaza, a fome em algumas regiões e os ataques a hospitais e profissionais de saúde.
A organização afirma que o jornalismo, tal como o voluntariado, é uma vocação que exige "denunciar atrocidades, crimes e delitos contra a humanidade". Por isso, considera inaceitáveis os ataques contra repórteres e trabalhadores humanitários, destacando nomes como a Cruz Vermelha, as forças da ONU e o chef espanhol José Andrés, cuja ONG World Central Kitchen também foi alvo de violência.
A EditoRed rejeita ainda "qualquer interpretação ideológica que justifique a violência" e recorda as contribuições históricas das culturas judaica e árabe, evocando vozes de paz como a do poeta israelita Yehuda Amichai e da escritora palestiniana Raja Shehadeh.
"Ninguém conseguirá calar os cronistas; os vivos continuarão a missão dos que morreram", lê-se na nota. A associação compromete-se a dar continuidade ao trabalho dos jornalistas assassinados, garantindo que as suas vozes e histórias cheguem aos mais de 450 milhões de recetores na Europa e nas Américas.
Conflitos esquecidos
Embora centrado em Gaza, o comunicado alerta ainda para outros cenários de violência contra jornalistas, como a guerra na Ucrânia e os conflitos no Sudão, Birmânia e Haiti. A associação lembra que as ameaças à liberdade de imprensa persistem não só em regimes autoritários, mas também em democracias, através da censura, da desinformação e da impunidade.
"Defender a liberdade de informação é, em essência, defender os direitos humanos", conclui a EditoRed, reforçando o apelo global à paz e à dignidade.

