Numa entrevista exclusiva à publicação "Aquí Europa", do grupo Prensamedia, o ministro espanhol dos Negócios Estrangeiros, União Europeia e Cooperação, José Manuel Albares, defendeu a necessidade de apoiar a missão humanitária em que participam a coordenadora nacional do partido Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, o ativista Miguel Duarte e a atriz Sofia Aparício. Alerta ainda para as crescentes provocações russas contra países da UE.
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O ministro espanhol foi categórico quanto à urgência de proteger a flotilha, posição oposta à do seu homólogo português, Paulo Rangel. Apesar de Itália também já ter tomado idêntica decisão, o ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal mantém a sua posição original, dizendo que os três portugueses a bordo conhecem os riscos que correm e que "não há um plano extra". As 50 embarcações com ajuda humanitária estão a deixar águas gregas rumo a Gaza. Israel já avisou que a Marinha está preparada para as intercetar. Um possível incidente diplomático e militar parece iminente.
"Estamos a falar de uma missão que é completamente humanitária e pacífica. O seu único objetivo é entregar ajuda humanitária aos habitantes de Gaza, já que Israel impôs um bloqueio absoluto sobre a Faixa." O ministro sublinhou que os membros desta missão "são pessoas pacíficas e humanitárias" que "não representam qualquer ameaça para Israel", justificando o envio do navio da Armada pela necessidade de proteger os cidadãos espanhóis perante os "demasiados incidentes e ataques reportados na zona".
Quem atacar será julgado
Numa declaração que se assemelha mais a um aviso direto a Israel, Albares advertiu que "quem atacar a flotilha ou impeça a sua navegação terá de prestar contas perante a justiça internacional", posição que disse ter sido acordada com outros 16 ministros dos Negócios Estrangeiros de países cujos nacionais estão a bordo dos navios humanitários.
Membros do grupo de navios da Flotilha Global Sumud para Gaza são vistos atracados na pequena ilha de Koufonisi, ao sul de Creta, na Grécia (Foto:AFP)
O chefe da diplomacia espanhola reivindicou também o papel pioneiro de Espanha no reconhecimento do Estado palestiniano, rejeitando críticas de isolamento: "Ao início, quando declarámos o reconhecimento do Estado da Palestina, havia quem dissesse que estávamos sozinhos, mas agora fica claro que não. Fomos pioneiros, abrindo caminho." Países como Eslovénia, Noruega, Irlanda e até membros permanentes do Conselho de Segurança como França e o Reino Unido seguiram posteriormente posições similares.
Violações do espaço aéreo da UE
Relativamente ao conflito na Ucrânia, Albares mostrou-se particularmente preocupado com as recentes incursões russas no espaço aéreo de países da União Europeia (UE), classificando-as como "provocações claras e violações flagrantes da soberania". "As incursões russas na UE são provocações claras e violações flagrantes da soberania, e a nossa resposta tem de ser firme e unitária", declarou, referindo-se aos ataques aéreos sobre Polónia, Roménia e Estónia, bem como aos ciberataques durante viagens oficiais de altos responsáveis europeus.
O ministro rejeitou qualquer possibilidade de divisão europeia face à agressão russa: "Não vejo risco de desunião. Estamos todos conscientes de que uma guerra de agressão não traz qualquer recompensa para o agressor, porque não resolveríamos nada." Albares enfatizou que "a segurança dos europeus é indivisível" e anunciou o reforço da participação espanhola na segurança do flanco leste da NATO, onde já estão destacados quase 3000 soldados.
Cimeira Ibero-Americana
Olhando para o futuro, o ministro destacou a importância estratégica da próxima Cimeira Ibero-Americana que Madrid acolherá no próximo ano. "Espanha é uma peça-chave na relação entre a Europa e a América Latina", afirmou, sublinhando que "a UE tem o músculo financeiro necessário para reforçar a relação com a Ibero-América" através do fundo Global Gateway, criado durante a presidência espanhola da UE.
A agenda da cimeira focará três pilares fundamentais: o desenvolvimento de mecanismos de proteção civil face às alterações climáticas, a criação de uma carta de direitos digitais ibero-americanos e a facilitação da mobilidade académica para "criar um espaço comum de conhecimento". Para Albares, este é "um momento decisivo para estreitar laços" numa altura em que "há quem aposte em respostas unilaterais face a problemas globais".
A entrevista, concedida ao "Aquí Europa" e conduzida por Jesús González, revela um ministro determinado a posicionar Espanha como líder em questões humanitárias e de direitos humanos, ao mesmo tempo que defende uma resposta europeia coordenada face às ameaças externas, seja no Médio Oriente ou na Europa de Leste.