General assume poder de junta militar no Níger com críticas da UE e apoio de Prigozhin
Novo chefe de Estado, Abdourahmane Tchiani afirmou que quer evitar “gradual e inevitável declínio” do país. Golpe é condenado pela União Europeia (UE), enquanto que Yevgeny Prigozhin, líder do grupo Wagner, elogia tomada do poder.
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O líder da guarda presidencial do Níger, Abdourahmane Tchiani, anunciou esta sexta-feira que vai comandar o país como chefe de Estado. O general de 62 anos recebeu o apoio dos membros do Conselho Nacional para a Salvaguarda da Pátria (CNSP), grupo que lidera, composto pelos militares que, na quarta-feira, depuseram o presidente democraticamente eleito, Mohamed Bazoum.
Num discurso televisivo, Tchiani justificou o golpe de Estado. "Não podemos continuar com as mesmas abordagens propostas até agora, sob o risco de assistirmos ao gradual e inevitável declínio do nosso país", defendeu o general, citado pelo jornal britânico "The Guardian". "É por isso que decidimos intervir e assumir a responsabilidade", acrescentou.
O novo chefe de Estado afirmou ainda que Bazoum tentou convencer o povo que "tudo estava bem", quando, na verdade, "a dura realidade" seria "uma pilha de mortos, deslocados, humilhação e frustração", de acordo com o canal Aljazeera. "A abordagem atual na questão de segurança não trouxe segurança ao país, apesar dos pesados sacrifícios do povo do Níger", salientou Tchiani.
A França – ex-potência colonial na região – e a União Europeia tinham ameaçado o país africano com sanções, não reconhecendo o novo Executivo. "Solicito aos parceiros técnicos e financeiros que são amigos do Níger que compreendam a situação específica do nosso país de forma a prestar-lhe todo o apoio necessário para que possa enfrentar os desafios", pediu o general.
O líder do CNSP, que suspendeu a Constituição de 2010 e fundiu os poderes Legislativo e Executivo, denunciou também "as consequências de qualquer intervenção militar estrangeira". Uma "atitude belicosa e perigosa não terá outro resultado senão o massacre da população nigerina e o caos", alertou Tchiani, em declarações reproduzidas pela agência Lusa.
UE condena golpe
A União Europeia condenou "nos termos mais fortes o golpe no Níger", segundo um comunicado assinado pelo chefe da diplomacia de Bruxelas, Josep Borrell. Mencionando a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), a UE reiterou o "apoio à ação da organização na sub-região e aos esforços em curso para permitir o regresso imediato à ordem constitucional".
"A União Europeia apela que a segurança e a liberdade do presidente Bazoum sejam garantidas incondicionalmente", defendeu Borrell. "Qualquer violação da ordem constitucional terá consequências para a cooperação entre a UE e o Níger, incluindo a suspensão imediata de todo o apoio orçamental", complementou.
A diplomacia europeia prometeu a continuidade de uma "coordenação próxima com os chefes de Estado da CEDEAO". A nota termina com Bruxelas a destacar "o respeito ao Estado de Direito, aos Direitos Humanos e à lei humanitária internacional no Níger".
Prigozhin elogia ação militar
O líder do grupo de mercenários Wagner, Yevgeny Prigozhin, supostamente comemorou o golpe de Estado no Níger. "O que aconteceu no Níger nada mais é do que a luta do povo com os seus colonizadores. Com colonizadores que estão tentando impor suas regras de vida e suas condições e mantê-los no estado em que a África estava há centenas de anos", disse o russo numa mensagem de voz enviada na aplicação de mensagens Telegram, citado pela agência Reuters.
O áudio atribuido a Prigozhin afasta a hipótese de que a ação no país africano teve involvimento dos Wagner. O líder dos mercenários ofereceu, no entanto, os serviços para trazer ordem ao Níger. O grupo russo tem atuação em diversos países em África, como o Mali e a República Centro-Africana.
ONU continua operações humanitárias
As Nações Unidas anunciaram, nesta sexta-feira, que vão continuar com os programas de assistência humanitária, desenvolvimento e paz no Níger. Apenas o serviço aéreo humanitário está suspenso de forma temporária devido ao encerramento do espaço aéreo do país, segundo comunicado do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários. Na quinta-feira, um dia após o golpe, a ONU tinha anunciado uma suspensão temporária das operações humanitárias, descrevendo o cenário no Níger como "complexo".