Google "apaga" datas ligadas à comunidade negra e LGBTQ+ e assume "Golfo da América"
A gigante tecnológica Google explicou que o elevado número de pedidos dos vários países para a inclusão de datas comemorativas na sua agenda tornou a tarefa "insustentável", decidindo exibir apenas os feriados reconhecidos no site "Time and Date". No Google Maps, o Golfo do México já é assumidamente Golfo da América.
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A Google retirou do seu serviço de calendário várias efemérides associadas a direitos civis, nomeadamente as referências aos meses da História Negra (fevereiro), da História da Mulher (março), da Memória do Holocausto (27 de janeiro) e a outras comemorações LGBTQ+. Nenhuma das datas, reconhecidas oficialmente por vários países, consta da agenda deste ano do principal motor de busca do Mundo.
Em declarações ao britânico "The Guardian", uma porta-voz da empresa, Madison Cushman Veld, explicou que colocar todas as celebrações deixou de ser "sustentável". "Há alguns anos, a equipa do Calendário começou a adicionar manualmente um conjunto amplo de momentos culturais de vários países. E recebemos feedback de outros em falta. Adicionar manualmente centenas de datas deixou de ser sustentável", justificou.
Por isso, prosseguiu, em meados de 2024 começaram a exibir apenas "feriados e datas comemorativas presentes no site Time and Date", permitindo aos utilizadores "adicionar manualmente outros momentos importantes". Ainda assim, as alterações tornaram-se mais notórias desde o início do ano, com o regresso de Donald Trump à Casa Branca. Aliás, recentemente, a gigante tecnológica anunciou que iria rever o seu compromisso com a diversidade, equidade e inclusão nas políticas de emprego, seguindo as novas diretrizes do chefe de Estado para as agências federais.
No final de janeiro, a Google anunciou também que decidiu utilizar o nome Golfo da América em vez de Golfo do México, de acordo com as ordens emitidas por Trump. "Recebemos algumas perguntas sobre nomes no Google Maps. Temos uma prática de longa data de adotar alterações de nomes quando são atualizados em fontes oficiais do Governo", sublinhou a empresa, em comunicado. O mesmo é válido para o Monte McKinley, no Alasca, anteriormente conhecido como Monte Denalim (nome indígena que Barack Obama decidiu dar à montanha mais alta do país). As alterações afetarão sobretudo os utilizadores que acederem aos mapas nos EUA, sendo que, no resto do mundo, será possível ver as duas denominações.
O "Golfo da América" valeu a exclusão de um jornalista da Associated Press (AP) de uma cerimónia com Trump. A agência noticiosa recusou adotar a nova designação decretada pelo presidente e o profissional foi impedido de entrar no evento. "A Casa Branca informou-nos de que, se a AP não alinhasse nos seus padrões editoriais com o decreto do presidente Donald Trump, seria barrada de um evento na Sala Oval", revelou a editora-executiva, Julie Pace. Promessa que foi cumprida ontem, na assinatura de uma ordem executiva.
Para Pace, trata-se de uma decisão "alarmante". "Isto não só impede o acesso do público a notícias independentes, como é uma violação clara da Primeira Emenda".