
Foto: Carlos Jasso / AFP
O primeiro-ministro britânico afirmou, esta que quer fechar "o mais rapidamente possível" todos os hotéis para requerentes de asilo no Reino Unido, perante disputas legais e protestos gerados nas últimas semanas sobre este sistema migratório.
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"Entendo por que as pessoas querem fechar os hotéis [com requerentes de asilo]. Quero fechá-los também. Vou trabalhar com a minha equipa para os fechar o mais rapidamente possível", disse Keir Starmer, em declarações exclusivas à BBC Radio 5 Live e citadas pela agência de notícias EFE.
Para Starmer, a única forma "de esvaziar" os hotéis é fazê-lo de "forma ordenada e sistemática e trabalhando nos casos o mais rápido possível" e, em seguida, deportando os migrantes sem direito a estar no Reino Unido.
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Questionado sobre uma data provisória para cumprir este objetivo, o primeiro-ministro britânico manifestou a intenção "de antecipar" os prazos atualmente estabelecidos, que previam o encerramento dos hotéis de acolhimento de migrantes antes de 2029, com o final da atual legislatura.
A imigração irregular e a luta contra gangues de traficantes de migrantes no canal da Mancha é um dos pontos centrais do roteiro do governo trabalhista, que, apontou Starmer, iniciou hoje "a segunda fase".
O primeiro-ministro britânico considerou que a migração é "um problema realmente sério" e reiterou o objetivo de "controlar as fronteiras" do país, lidando com pessoas que cruzam para o Reino Unido ilegalmente, com hotéis para requerentes de asilo ou com deportações, que sob o governo de Starmer chegaram a 35 mil.
A 19 de agosto, o Supremo Tribunal de Inglaterra e do País de Gales decidiu a favor da autarquia de Epping (norte de Londres) e ordenou o despejo, até 12 de setembro, do Bell Hotel, na cidade, onde estão alojados mais de uma centena de requerentes de asilo e tem sido o centro dos protestos depois de um dos inquilinos ter sido acusado de uma alegada agressão sexual.
No entanto, esta decisão judicial, que podia ter causado um efeito semelhante em outras cidades do país, foi anulada na sexta-feira passada, depois de o Ministério do Interior britânico ter ganhado um recurso no Tribunal de Recurso da Inglaterra e do País de Gales que paralisou o despejo do hotel de Epping.
A polémica em torno dos hotéis de requerentes de asilo também alimentou uma tendência em todo o país, apoiada sobretudo por figuras de extrema-direita, que levaram para as ruas a bandeira de Inglaterra, com a cruz vermelha de São Jorge sobre um fundo branco, como símbolo da "pureza" britânica.
Starmer descreveu-se na BBC Radio 5 Live como um "apoiante das bandeiras", embora tenha dito que não concordava com o uso de símbolos nacionais britânicos para dividir e desvalorizar.
Reagrupamento familiar a refugiados limitado
O Reino Unido vai apertar o atual regime de reagrupamento familiar para refugiados para evitar abusos, anunciou hoje a ministra do Interior, Yvette Cooper.
"Vamos apresentar novas leis de imigração esta semana para suspender temporariamente novos pedidos ao abrigo da atual via dedicada ao reagrupamento familiar de refugiados. Até que o novo quadro seja introduzido, os refugiados estarão sujeitos às mesmas regras e condições de migração familiar que todos os outros", revelou.
Para trazerem familiares para o Reino Unido, imigrantes no país têm de provar capacidade financeira para sustentar a família, entre outros requisitos.
Países como a Dinamarca e Suíça só aceitam o reagrupamento familiar pelo menos dois anos após a concessão do estatuto de asilo, mas no Reino Unido não existe um prazo mínimo.
Atualmente, "os pedidos são apresentados, em média, cerca de um mês após a concessão da proteção, muitas vezes, mesmo antes de um refugiado recém-concedido ter deixado o alojamento" temporário para requerentes de asilo, sem assegurar emprego ou habitação, sublinhou a ministra.
A responsável referiu que o aumento do número de pedidos de asilo e reagrupamento familiar está a colocar pressão sobre as autarquias, obrigadas a providenciar alojamento para evitar situações de sem-abrigo.
"As regras atuais para o reagrupamento familiar de refugiados foram concebidas há muitos anos para ajudar famílias separadas pela guerra, conflitos e perseguições, mas a forma como são utilizadas atualmente mudou", justificou.
Cooper disse desconfiar que traficantes estão a facilitar a travessia "perigosa" do Canal da Mancha em barcos de borracha com "a promessa de reunificação familiar" junto de migrantes.
"Em breve, apresentaremos reformas mais radicais para modernizar o sistema de asilo e reforçar a segurança das nossas fronteiras", prometeu.
Uma das alterações será a reforma da forma como a Convenção Europeia dos Direitos Humanos (CEDH) é interpretada no Reino Unido, mas a ministra recusou a suspensão da aplicação deste tratado internacional.
Os partidos da oposição de direita e alguns antigos ministros do Partido Trabalhista têm defendido a suspensão da CEDH no Reino Unido para travar a entrada de requerentes de asilo.
No entanto, Cooper salientou que "o Direito Internacional é importante".
O Governo tem estado sob pressão para controlar a chegada de migrantes através do Canal da Mancha, por onde chegaram só este ano cerca de 29 mil pessoas, 47% a mais do que no mesmo período do ano passado.
