O Movimento Cinco Estrelas (M5S), que integra a coligação que lidera Itália, cumpriu a promessa que fez e, esta quinta-feira, afastou-se da votação da moção de confiança do Senado. Eleições podem ser antecipadas para o próximo outono.
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O crescimento da tensão política em Itália pode colocar em risco o Governo de Mario Draghi, após o partido M5S, membro da coligação governamental, ter optado por se abster na votação da moção de confiança do Senado, o que, na perspetiva de vários especialistas políticos, representa uma tentativa de reconquistar apoio popular.
A força política que apoia o Executivo de Draghi colocou-se à margem da votação que passou no Parlamento italiano com 172 votos a favor e 39 contra. O partido liderado por Giuseppe Conte considera que a proposta de apoio social apresentada pelo Governo, que que inclui um ajuda de 26 mil milhões de euros para famílias e empresas para mitigar os efeitos da inflação, não é suficiente para dar resposta à crise económica que o país está a enfrentar.
Com a decisão do M5S, a coligação liderada por Draghi fica tremida, numa altura em que a economia italiana sofre com as consequências da inflação, e o país pode estar perto de viver eleições antecipadas já no próximo outono.
O chefe do Executivo italiano já deixou claro que vai não liderar um Governo sem o M5S e que não haverá um "Draghi bis" - eliminando a possibilidade de uma recandidatura ao cargo, no caso de o Governo cair.
Embora, em teoria, Draghi mantenha os apoios necessários para aprovar a moção, e apesar de o líder do M5S, Giuseppe Conte, ter assegurado que o voto de protesto não significa que o partido queira abandonar a coligação, a falta de apoio deste movimento de extrema-direita forçou o primeiro-ministro a comparecer numa reunião com o chefe de Estado, Sergio Mattarella.
A decisão do M5S surge depois de Conte ter vindo a contestar, nas últimas semanas, as prioridades do Governo, ao exigir um alívio financeiro para as famílias e empresas mais afetadas pelos altos custos de energia, e o financiamento de um salário mensal para quem está desempregado. Draghi tentou dar resposta às reivindicações dos parceiros, mas deixou claro que não iria tomar decisões baseadas em ultimatos.
Os primeiros sinais de que Itália poderia estar prestes a cair numa crise política foram dados durante a Cimeira da NATO, que se realizou na última semana de junho, em Madrid. Durante um jantar de líderes da Aliança, no Museu do Prado, Draghi teve de abandonar o evento mais cedo e regressar a Roma para presidir ao Conselho de Ministros, no qual foi discutido o aumento do preço da eletricidade e outras medidas contra a inflação.
Segundo vários analistas de política internacional, com esta atitude, o M5S não está a tentar fazer cair Governo, mas sim a tentar recuperar o apoio dos italianos, que foi perdendo nos últimos anos, correndo o risco de obter resultados catastróficos nas próximas eleições.