Ao contrário de todas as expectativas, os partidos Força Itália e Liga, que integram a coligação de Governo italiana, rejeitaram apoiar no Senado a moção de confiança no primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, tal como já havia anunciado o Movimento Cinco Estrelas (M5S).
Corpo do artigo
Com o argumento de que estão indisponíveis para continuar na coligação governamental juntamente com o M5S, os partidos Força Itália (centro-direita), de Silvio Berlusconi, e Liga (extrema-direita), de Matteo Salvini, não votaram no Senado (câmara alta do parlamento) a moção de confiança em Draghi, abandonando o hemiciclo e abrindo caminho para mais uma crise política em Itália.
"Com amargura, mas com a consciência tranquila, não participaremos da votação", referiu Anna Maria Bernini, líder do grupo parlamentar da Força Italia no Senado, antes da votação. Por sua vez, a Liga havia apresentado a própria moção ao Senado, propondo a renovação da confiança na coligação governamental, mas sem incluir o M5S (anti-sistema), mas Draghi afastou tal solução. Já o secretário-geral do Partido Democrata, Enrico Letta, que apoiou Draghi, lamentou "este dia de loucura em que o parlamento decidiu voltar-se contra a Itália" e anteviu a realização de eleições.
Demissão à vista
Embora tenha visto a moção de confiança ser aprovada Parlamento - com 95 votos a favor e 38 contra - foi sem o apoio dos principais partidos que apoiam a coligação parlamentar. Os aliados daquele que é apelido como "Super Mario" deixaram-no sem alternativa na hora da verdade, sendo que o passo seguinte deverá ser uma demissão junto do presidente italiano, Sergio Mattarella.
A grande maioria dos especialistas políticos previa que Draghi fosse capaz de persuadir os partidos a comprometerem-se novamente com uma aliança governamental forte, mas os esforços falharam. Horas antes da votação, o primeiro-ministro apelou para que os partidos voltassem a unir "o pacto de confiança", acrescentando que "a única solução, se ainda quisermos ficar juntos, é reconstruir esse pacto a partir dos seus alicerces com coragem", mas não foi assim.
As preces não foram ouvidas e o país deverá viver novas eleições no outono. A crise política entre os partidos da coligação instalou-se na semana passada, quando o partido M5E recusou participar num voto de confiança ao Executivo, o que levou Draghi a apresentar a demissão ao presidente. Mattarella não aceitou e remeteu o assunto para o parlamento que, com a batata quente na mão, tomou a decisão de encurralar o líder, no poder desde 2021.
Aos 74 anos, o ex-presidente do Banco Central Europeu é um dos líderes europeus com maior experiência na gestão de crises económicas. A sua saída poderá representar um duro golpe para Itália numa altura em que a inflação não dá tréguas.
Reação
O comissário europeu da Economia, Paolo Gentiloni, defendeu que os partidos da coligação de unidade nacional que abandonaram o primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, são "irresponsáveis". "O ballet dos irresponsáveis contra Draghi pode causar uma tempestade perfeita", escreveu no Twitter. Considerado por muitos como o salvador da zona euro durante a crise financeira de 2012, quando era chefe do Banco Central Europeu, Draghi tinha sido convidado a chefiar o Governo italiano em fevereiro de 2021 para tirar o país da crise provocada pela pandemia.
Outras crises
Janeiro de 2021
O Governo de Itália sofreu um duro golpe. Na sequência da falta de apoio à coligação parlamentar, o então primeiro-ministro do país, Giuseppe Conte, apresentou a demissão. Seguiram-se novas eleições e Mario Draghi foi chamado ao dever.
Abril de 2005
Sílvio Berlusconi não resistiu à sucessiva demissão de ministros do seu Governo de centro-direita, provocada pela derrota nas eleições regionais, e apresentou a demissão ao então presidente da República, Carlo Azeglio Ciampi. Tal como no caso atual, o presidente não aceitou a demissão, mas depois reverteu a decisão.