Rússia diz ter matado 450 militares ucranianos num único dia. Ofensiva redobra de intensidade e agrava a devastação humanitária no Donbass.
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Faz hoje quatro meses, ainda antes de avançar com blindados e tropas na dita "operação especial" na Ucrânia, que Vladimir Putin reconheceu a independência das províncias separatistas pró-russas, as autoproclamadas República Popular de Donetsk e República Popular de Lugansk, cuja legitimidade só é reconhecida por Moscovo. Se foi ou não por via da efeméride, certo é que a ofensiva redobrou de intensidade e de devastação. O Donbass permanece sob fogo, Karkhiv não tem descanso e Mariupol definha à fome e à sede. A Rússia diz ter matado 450 membros das forças armadas ucranianas.
Entre agressões e retaliações, Moscovo acusa Kiev de atacar plataformas marítimas de petróleo, na península da Crimeia, anexada desde 2014. "O inimigo atacou as plataformas de perfuração de Chernomorneftegaz. Estamos a trabalhar para salvar pessoas", anunciou, via Telegram, Sergei Aksyonov, governador da Crimeia, designado pelo Kremlin.
A par da anexação de Sevastopol, a ocupação ilegal da península é também a justificação do Conselho da União Europeia para estender por mais um ano, até 2023, as sanções à Rússia. Em causa estão medidas já em vigor, introduzidas pela primeira vez em junho de 2014, após a anexação, considerada ilegal.
Tudo ainda no mesmo dia em que o balanço diário de operações do Ministério da Defesa da Rússia indicou ter destruído um centro de controlo de drones no aeródromo Artsyz, em Odessa, um sistema de defesa Buk-M1, em Donetsk, e de um sistema de mísseis antiaéreos S-300, em Lugansk. As forças russas reivindicam também ter abatido um avião MiG-29 em Dnipropetrovsk e matado 450 membros das forças armadas ucranianas.
"Guerra bárbara"
Entre feitos e atrocidades militares, a Rússia é também acusada de usar mais de 210 tipos de armas proibidas pelos tratados internacionais, a maioria munições de fragmentação e minas, que representam um grave risco para a vida dos civis, inclusive décadas depois de acabar a guerra.
A conclusão é de um estudo do "The New York Times", que examinou mais de mil fotografias tiradas pelos fotojornalistas do jornal e por fotógrafos que trabalham na Ucrânia, bem como provas visuais apresentadas por agências governamentais e militares ucranianas, que atestam "uma guerra surpreendentemente bárbara e antiquada".
Entretanto, em Mariupol, o presidente da Câmara, Vadym Boychenko, diz que os russos só fornecem água potável aos residentes uma vez por semana e que as pessoas ficam em filas de quatro a oito horas para obterem água. Ainda de acordo com Boychenko, não há gás, nem eletricidade e o acesso a alimentos também é limitado. O sistema de esgotos não está a funcionar.
Para piorar a situação, um armazém de comida na cidade portuária de Odessa, no sul da Ucrânia, foi destruído por um ataque de mísseis russos. De acordo com militares ucranianos, as forças russas dispararam 14 mísseis contra a região, informa a Reuters. Não há relato de mortes.