Candidatos a secretário-geral concordam com reforma do Conselho de Segurança, mas António Guterres quer consenso e insiste na necessidade de intervenção mais preventiva da ONU nos conflitos.
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A nove dias de os 12 candidatos a secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) começarem a ser apreciados pelo Conselho de Segurança, o pretendente português, António Guterres, defendeu nada menos do que a reforma deste importante órgão que se pronuncia sobre um dos temas que mais o preocupa - os conflitos.
"Nenhuma reforma da ONU está completa sem uma reforma do Conselho de Segurança", respondeu Guterres, citando o ex-secretário-geral Kofi Annan, ao participar, terça-feira à noite, na sede da ONU num debate inédito, com a presença de dez candidatos em dois grupos, respondendo a perguntas de dois moderadores e de dois painéis de convidados.
Transmitido para todo o mundo pela cadeia de televisão Al Jazzira e pelos meios de comunicação da ONU, o debate pretendeu atrair o interesse do público pelo trabalho das Nações Unidas e pelo futuro secretário-geral, no âmbito das iniciativas, inéditas, para tornar mais transparente o processo de escolha do lugar de topo da diplomacia mundial, que cabe ao Conselho de Segurança recomendar e à Assembleia Geral nomear.
Todos os participantes concordam que o Conselho tem um défice de representação regional, por nenhum dos cinco membros permanentes pertencer à América Latina ou a África (embora aconteça entre os dez não permanentes este ano), mas Guterres acentuou que tal alteração "só será possível se os países membros assim o quiserem e se criarem o consenso necessário", segundo o relato da Agência Lusa.
O próximo secretário-geral deve ser "sólido" e um "símbolo da unidade" que "precisa de saber combater, e derrotar, o populismo político, o racismo e a xenofobia", considerou Guterres, defendendo a prioridade na prevenção dos conflitos, na qual "pode intervir, de forma humilde, para criar pontes entre os vários participantes" e "reduzir o sofrimento humano".
Como alto comissário da ONU para os refugiados, "senti a frustração de ver pessoas sofrer e saber que não tinha uma solução para elas. Foi por isso que entendi ser minha obrigação candidatar-me a secretário-geral da ONU", explicou o antigo primeiro-ministro português.
Na corrida, pela primeira vez assumida aberta e publicamente pelos estados membros interessados, a convite geral dos presidentes da Assembleia Geral e do Conselho de Segurança, estão seis homens e outras tantas mulheres, havendo notícia de preferência por uma opção feminina, inédita, e de Leste.
"Durante 70 anos, a organização foi governada por pessoas que representam apenas 50% da experiência humana" e "está na hora de isso mudar", comentou a candidata Vesna Pusic, antiga ministra e primeira-ministra croata.