O Alto-comissário da ONU para os Refugiados, António Guterres, considerou, esta sexta-feira, que a geração de crianças afetada pela guerra civil na Síria está marcada pelo trauma e pela raiva.
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O ex-primeiro-ministro português falava na conferência de imprensa, em Genebra, em que o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), e o Fundo da ONU para a Infância (UNICEF) apresentaram números sobre os 29 meses do conflito sírio, que já levou mais de seis milhões de crianças a uma situação de sofrimento extremo.
As organizações da ONU acrescentaram que 3,1 milhões de menores foram afetados pelo conflito, dois milhões são deslocados internos e um milhão refugiou-se em algum dos países vizinhos.
De acordo com o ACNUR, 75% dos menores refugiados têm menos de 11 anos.
Guterres reconheceu que, apesar dos esforços do ACNUR e de várias organizações humanitárias, "não se está a fazer o suficiente" para dar às crianças o apoio psicológico e material de que precisam. "O que está em jogo é a sobrevivência e o bem-estar de uma geração de inocentes", sublinhou.
Esta tragédia é "totalmente inaceitável", disse o alto-comissário, adiantando que o movimento de sírios que fogem da guerra civil acelerou nos últimos dias, com "40 mil novos refugiados sírios no Curdistão iraquiano desde 15 de agosto".
"A juventude síria perdeu o seu lar, a sua família e o seu futuro. Mesmo depois de ter encontrado um refúgio no exterior, estas crianças estão traumatizadas, deprimidas e em busca de uma razão para terem esperança", afirmou António Guterres.
Em dois anos de conflito, perto de sete mil crianças foram mortas e fazem parte do número total de mortos da guerra: 100 mil pessoas.
As crianças sírias correm ainda o risco de serem recrutadas à força para combater ou de serem exploradas sexualmente, advertiram as agências da ONU.
A diretora executiva adjunta da UNICEF, Yoka Brandt, lembrou que há exatamente um ano o número de crianças refugiados era de 70 mil, e nada fazia prever uma escalada da violência que levasse dois milhões a fugir do país.
Os danos físicos, o stress, o medo e o trauma são apenas uma parte dos sofrimentos que as crianças sentem neste conflito.
Brandt afirmou que, 29 meses depois do início da guerra civil na Síria, as famílias que acolheram familiares ou amigos esgotaram os meios de sobrevivência.
A deterioração da situação nas comunidades de acolhimento é um elemento adicional de stress que coloca em risco as crianças, na opinião da responsável da UNICEF.
Guterres lembrou que, há um ano, em resposta a uma pergunta sobre a partir de que número a situação seria incomportável, respondeu com um limite muito aquém da atual situação.
No final da conferência de imprensa, as agências da ONU apelaram para que "as partes em conflito deixem de tomar civis como alvos e de recrutar crianças".
"As fronteiras devem manter-se abertas para que as famílias possam fugir da Síria em segurança", pediram o ACNUR e UNICEF.