O Hamas acusou, esta quinta-feira, Donald Trump de minar o acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza após o presidente norte-americano exigir, na rede social Truth, que todos os reféns israelitas sejam libertados imediatamente ou, caso contrário, o "povo de Gaza" vai estar "morto".
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Trump ordenou, na noite de quarta-feira, que o grupo islamita "liberte todos os reféns agora, não depois". "Devolva imediatamente todos os corpos das pessoas que assassinou, ou estará ACABADO para si", escreveu. "Estou a enviar a Israel tudo o que é necessário para terminar o trabalho, nem um único membro do Hamas estará a salvo se não fizer o que eu digo", acrescentou o ocupante da Casa Branca.
As ameaças não foram, no entanto, apenas para o Hamas, mas para os residentes de Gaza. "Para a liderança [da organização islamita], é agora tempo de deixar Gaza, enquanto ainda há hipótese. Além disso, ao povo de Gaza: um belo futuro espera por vós, mas não se mantiverem reféns. Se o fizerem, estarão MORTOS! Tomem uma decisão INTELIGENTE. LIBERTEM JÁ OS REFÉNS, OU TERÃO DE PAGAR O INFERNO DEPOIS!", completou o presidente dos Estados Unidos.
A intimidação pelo chefe de Estado norte-americano ocorreu após um encontro com oito ex-reféns israelitas na Sala Oval. O secretário de Estado afirmou que Trump ficou indignado com os relatos e que as ameaças são sérias. "Ele não diz estas coisas sem querer, como as pessoas estão a descobrir pelo Mundo. Se ele disser que vai fazer alguma coisa, fará", declarou Marco Rubio à estação Fox News.
"Estas ameaças complicam as questões relativas ao acordo de cessar-fogo e encorajam a ocupação [israelita] a evitar a implementação dos seus termos", destacou o porta-voz do Hamas, Hazem Qasim, numa nota, citada pela agência France-Presse (AFP). A trégua encontra-se num limbo desde o fim da primeira fase, de 42 dias, no último sábado. Israel quer a extensão deste período, enquanto o Hamas defende a implementação da segunda etapa, em que todos os reféns seriam libertados em troca da retirada total das tropas israelitas.
Telavive aproveitou a situação incerta sobre o futuro do acordo para bloquear a entrada de ajuda humanitária ao devastado enclave palestiniano, em que pelo menos mais de 48 mil pessoas morreram devido aos ataques hebraicos durante 15 meses.
Num comunicado conjunto, a Alemanha, a França e o Reino Unido alertaram, na quarta-feira, que a pausa na entrega de alimentos, combustíveis, medicamentos e outros mantimentos em Gaza deixaria a situação "catastrófica". "Apelamos ao Governo de Israel para que cumpra as suas obrigações internacionais de garantir a prestação plena, rápida, segura e sem entraves de assistência humanitária à população de Gaza", comunicaram os três países.
"Falta-nos água potável. As pessoas estão a queixar-se da falta de água em geral. Não conseguimos livrar-nos dos resíduos, que afetam as águas subterrâneas", contou Abu Hammam al-Hasanat à AFP.
Washington em contacto com islamitas
A mensagem agressiva de Trump aconteceu após a Casa Branca ter confirmado contactos diretos com o Hamas através do enviado especial para a questão dos reféns, Adam Boehler. A medida é algo sem precedentes desde que os islamitas palestinianos foram considerados uma organização terrorista, em 1997.
Estima-se que há ainda cinco cativos com cidadania dos Estados Unidos em Gaza, sendo quatro confirmados mortos e um, Edan Alexander, que se acredita estar vivo.
Na terça-feira, Washington tinha rejeitado o plano para o território palestiniano apresentado pelo Egito durante uma cimeira com os países árabes, no Cairo. A proposta, apoiada pelas Nações Unidas e a União Europeia, mantém os mais de dois milhões de residentes de Gaza no enclave durante o período de reconstrução - num forte contraste com a ideia de uma "Riviera do Médio Oriente" de Trump, que quer deslocar permanentemente os palestinianos.