O líder do Hezbollah juntou-se à organização em 1982 e tem um Exército com milhares de militares à sua disposição. Está nos comandos do movimento há mais de 30 anos e, esta sexta-feira, pronunciou-se pela primeira vez sobre a guerra entre o Israel e o Hamas.
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Logo na primeira semana de confrontos entre Israel e o Hamas, o Hezbollah, organização política e paramilitar fundamentalista islâmica xiita, realizou ataques aéreos contra o território israelita, justificando a intervenção com a necessidade de mostrar solidariedade com a causa palestiniana. As investidas do último mês levantaram os temores de uma eventual expansão do conflito no Médio Oriente, mas só há um homem capaz de disseminar a guerra a toda a região. Trata-se de Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah desde 1992.
Na primeira declaração desde o início do conflito entre Israel e o Hamas, esta sexta-feira, Nasrallah anunciou que cabe aos líderes de cada movimento da aliança contra o Estado hebraico decidir se entram na guerra - que classificou como "legítima" -, alertando para a possiiblidade de uma "guerra total".
"A batalha contra esses invasores e ocupantes sionistas é totalmente legítima do ponto de vista humanitário, moral e religioso", disse Nasrallah, durante um discurso transmitido em ecrãs espalhados pelo Líbano, acrescentando que são "os Estados Unidos que impedem um cessar-fogo" e que também impedem que "o inimigo seja condenado internacionalmente".
Herói no Líbano
Nascido num bairro de Beirute em 1960, Nasrallah tinha 15 anos quando a guerra civil eclodiu no Líbano, forçando a família, incluindo os nove irmãos, a fugir da capital para uma casa em Bazouriye, uma aldeia no Sul do país.
Impulsionado pelo ódio da invasão, em 1982, com a guerra civil em curso, Nasrallah organizou uma resistência armada à ocupação israelita do Líbano, acabando depois por viajar para o Irão, onde terá ido procurar mais formação política e militar.
Apesar de pertencer à organização desde a década de 80, Nasrallah - que não é visto em público desde 2014 - só ascendeu a líder depois do todo poderoso do Hezbollah, Abbas al Musawi, ter sido assassinado na sequência de um ataque aéreo israelita, em 1992. Sempre discreto, o libanês tornou-se uma das principais vozes de uma aliança militar regional estabelecida pelo Irão para combater os EUA e Israel, conhecida como o "Eixo da Resistência", sendo que, nas raras entrevistas que foi dando, sempre recusou reconhecer a existência do Estado hebraico.
Sob a liderança de Nasrallah, o Hezbollah conseguiu captar um amplo apoio entre os muçulmanos xiitas há muito sub-representados no Líbano, ao oferecer empréstimos sem juros e entregas de alimentos durante o Ramadão.
Em paralelo, os ataques à ocupação israelita no Sul do Líbano forçaram o Exército inimigo a sair do país em 2000, ao fim de 15 anos de ocupação. Quando os soldados do Estado hebraico se retiraram, a popularidade de Nasrallah no mundo árabe disparou, passando a ser visto como herói.
Seis mais tarde, o Hezbollah voltou a entrar em confronto com Israel. Esta guerra terminou com a morte de mais de mil libaneses e 165 israelitas, seguindo-se anos de uma absoluta contenção de qualquer escalada entre as partes, apesar das frequentes provocações militares provenientes de ambos os lados. O apoio a Nasrallah manteve-se firme e intacto.
Conta com um Exército preparado
Com a explosão do conflito na Faixa de Gaza, surgem agora receios de uma disseminação da guerra a todo o Médio Oriente, uma vez que o Hezbollah se tem mostrado muito ativo nos ataques a Israel.
Com o apoio de Teerão, nos últimos anos, o Hezbollah conseguiu passar de uma organização de guerrilha para uma força semelhante a um Exército convencional, com drones e rockets que têm capacidade para atingir todas as regiões de Israel.
Apesar de Nasrallah contar com um Exército constituído por milhares de homens (embora não se saiba o número ao certo), não é claro se o fará avançar contra Israel. O líder tem à sua disposição tropas endurecidas pela guerra, que sustentam o regime do presidente sírio Bashar Al-Assad há anos, lutaram no Iraque e que, alegadamente, estarão envolvidas no treino dos rebeldes houthis no Iémen. Resta saber até que ponto essa força poderá ser usada no quadro dos desenvolvimentos bélicos no Médio Oriente.
De acordo com especialistas ouvidos pelo "The Telegraph", é improvável que o Hezbollah queira arriscar os ganhos que obteve internamente ao longo dos últimos anos, não devendo querer correr o risco de perder apoio enquanto os libaneses atacam a elite política pela prolongada crise financeira.