Shakeel Afridi ajudou a agência norte-americana CIA a localizar e abater Osama bin Laden, líder da rede terrorista al-Qaeda e responsável pelos atentados de 11 de setembro de 2001.
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Considerado um herói nos Estados Unidos, mas criticado como um traidor no Paquistão, Shakeel Afridi pagou um preço elevado pelo seu papel na morte de Osama bin Laden, responsável pelos atentados em solo norte-americano a 11 de setembro de 2001, que fizeram cerca de três mil mortos. Dez anos depois de o líder da rede terrorista al-Qaeda ter sido abatido, o sofrimento do médico está longe do fim. Ao organizar uma campanha falsa de vacinação contra a hepatite, o paquistanês ajudou a agência norte-americana de informação CIA a localizar Bin Laden em Abbottabad, no Norte do Paquistão, onde o jiadista foi morto pelas forças especiais dos EUA a 2 de maio de 2011.
Detido desde então, Afridi está isolado numa prisão da província de Punjab. E nada indica que virá a ser absolvido pela Justiça paquistanesa. "Sejamos claros: Afridi pagou o maior preço pelo ataque contra Bin Laden", diz, à agência noticiosa AFP, Michael Kugelman, diretor-adjunto para a Ásia do Wilson Center, sediado em Washington, nos EUA.
A AFP reconstituiu a rotina diária de Afridi graças a entrevistas com o irmão e o advogado, pois o médico não está autorizado a falar com ninguém, exceto parentes e a equipa de defesa. Para manter a forma física, caminha pela cela (dois metros de comprimento por dois metros de largura) e faz abdominais. Tem um exemplar do Corão, mas não tem direito a mais livros.
Algumas vezes por semana, faz a barba, na presença de um guarda, mas não está autorizado a ter qualquer contacto com os outros presos.
Os familiares podem visitá-lo duas vezes por mês, mas devem permanecer atrás de uma grade de metal e não podem conversar com ele em pashtun, o seu idioma de origem. "As autoridades penitenciárias afirmaram que não podemos falar de política nem da situação na prisão", conta o irmão, Jamil Afridi.
Natural das zonas tribais do noroeste do Paquistão, Shakeel estava bem posicionado, com o seu conhecimento do pashtun, para ajudar a CIA a localizar Bin Laden.
A agência precisava apenas de uma prova material da presença do cérebro dos atentados de 11 de setembro de 2001 em Abbottabad. Por isso, solicitou ao médico que iniciasse uma campanha falsa de vacinação para obter uma amostra de ADN de uma pessoa que morava na residência onde o terrorista viria a ser abatido.
"Bode expiatório"
O papel exato de Shakeel na identificação de Bin Laden não está claramente estabelecido. Mas foi detido pelas autoridades paquistanesas poucas semanas depois.
Nunca foi condenado por relação com a morte do terrorista. Mas recebeu uma pena de 33 anos de prisão por ter financiado um grupo extremista, com base numa obscura lei da era colonial. Os sucessivos governos dos Estados Unidos protestaram contra a situação. Uma eventual troca de prisioneiros foi contemplada, mas um acordo não foi alcançado.
"Hoje, é mantido na cadeia para dar o exemplo a cada paquistanês de não cooperar com uma agência de informação ocidental", afirmou, à AFP, Husain Haqqani, embaixador do Paquistão nos Estados Unidos em 2001. "Em vez de dizer a verdade sobre a presença de Bin Laden no Paquistão, as autoridades transformaram Shakeel num bode expiatório."