As cerimónias fúnebres de Nelson Mandela terminaram em Joanesburgo, onde uma centena de chefes de Estado e de Governo e milhares de pessoas celebraram a luta do antigo presidente da África do Sul contra o "apartheid". Uma homenagem que ficou marcada pelo aperto de mão histórico de Barack Obama a Raúl Castro, o líder cubano.
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O vice-presidente do Congresso Nacional Africano, Cyril Ramaphosa, deu por terminada a cerimónia após a intervenção do arcebispo emérito de Cidade do Cabo, Desmond Tutu, que enalteceu a vida do "extraordinário ícone" que foi Mandela.
"Isto leva à conclusão deste serviço comemorativo", disse Ramaphosa, enquanto a multidão abandonava o estádio Cidade do futebol, no Soweto, em Joanesburgo.
Ao longo de quatro horas, a cerimónia, marcada por uma grande emoção e pelo aperto de mão histórico entre Obama e Raúl Castro, contou com discursos de líderes mundiais.
Uma cerimónia religiosa ecuménica, cânticos e as memórias de familiares e amigos de 'Madiba' -- como Mandela era tratado -- serviram para homenagear o Nobel da Paz, num ambiente festivo, apesar da chuva que não parou de cair.
Cavaco Silva foi um dos líderes presentes na cerimónia. Pelo Governo português, marcou presença o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete.
O presidente da República português encontrou-se com Barack Obama e teve uma "longa conversa" com o primeiro-ministro timorense, à margem das cerimónias fúnebres.
Grande ovação para Barack Obama
Se o presidente sul-africano, Jacob Zuma, foi vaiado nas bancadas quando chegou ao estádio, Barack Obama, foi o mais ovacionado pelos milhares de pessoas que assistiram à celebração. Obama foi primeiro primeiro chefe de Estado estrangeiro a discursar. Mas ainda antes de falar, cumprimentou alguns dos Chefes de Estado presentes no palanque. O histórico cumprimento a Raúl Castro, presidente cubano, foi muito comentado na imprensa mundial. Foi a primeira vez que os dois homens se cumprimentaram.
"É difícil elogiar qualquer homem... e tanto mais quando se trata de um gigante da história, que levou uma nação em direção à justiça", disse, após uma enorme ovação da multidão.
Obama e a mulher, Michelle, chegaram à base da força aérea sul-africana Waterkloof, perto de Pretória, após um voo de 16 horas no "Air Force One", proveniente de Washington.
O antigo presidente norte-americano George W. Bush e a mulher, Laura, acompanharam Obama, enquanto dois outros antigos líderes dos Estados Unidos Bill Clinton e Jimmy Carter viajaram separadamente.
A presidente brasileira, Dilma Rousseff, falou a seguir ao presidente dos EUA, recordando que a luta do primeiro presidente negro da África do Sul inspirou a luta da América do Sul.
Dilma lembrou que Mandela "conduziu com paixão e inteligência um dos mais importantes processos de emancipação do ser humano da história moderna", ao pôr fim ao regime do "apartheid".
"O combate de Mandela e do povo sul-africano transformou-se num paradigma, não só para o continente, mas para todos os povos que lutam pela justiça, a liberdade e a igualdade", afirmou.
Milhares para lembrar Mandela
Winnie Mandela, a segunda mulher do ex-presidente sul-africano, e a viúva, Graça Machel, uniram-se num afetuoso abraço, beijando-se em frente aos milhares de sul-africanos que encheram o estádio.
Os milhares de espetadores no estádio deram também ao secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, uma ovação quando chegou ao estádio, desculpando mesmo o atraso de quase meia hora.
Já o presidente sul-africano, Jacob Zuma, foi vaiado quando entrou no estádio FNB. Enquanto alguns setores do estádio aplaudiam o chefe de Estado sul-africano e líder do partido ANC, uma grande vaia vinda das bancadas onde se encontram populares ativistas contra o poder surpreendeu os presentes no estádio. Jacob Zuma voltou a ser vaiado mais tarde, quando o mestre-de-cerimónias o apresentou e o seu retrato surgiu nos écrans gigantes do estádio.
Frederik de Klerk, o presidente sul-africano que terminou o regime de "apartheid", a política de segregação racial da África do Sul, não suscitou qualquer reação por parte dos presentes quando foi apresentado ao público e o seu retrato exibido.
As ações de despedida de Mandela prosseguem a partir desta quarta-feira em Pretoria, em cujas ruas o caixão do ex-presidente desfilará, até sexta-feira. Nos mesmos dias, também na capital, estará instalada na sede do Governo a capela ardente.
O funeral decorre no próximo domingo, na localidade de Qunu, na província do Cabo Oriental, onde Mandela cresceu e havia pedido para ser enterrado, numa cerimónia restrita à família.