Os candidatos revelaram estar em polos opostos quando o assunto envolve a política económica e financeira do Reino Unido. Já no que diz respeito a questões de política externa mostraram-se mais coniventes.
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A luta pela liderança do Partido Conservador e, consequentemente, a conquista pelo lugar de primeiro-ministro subiu esta segunda-feira à noite de nível. No primeiro debate da corrida eleitoral, os candidatos à sucessão de Boris Johnson focaram a discussão na política económica e financeira que cada um pretende alcançar para o Reino Unido nos próximos anos.
Se ainda no início deste mês ambos estavam ao lado de Boris Johnson, semanas depois tudo mudou. A chuva de críticas que caiu sobre o primeiro-ministro levou a que vários membros do Executivo se afastassem do plano político. Rishi Sunak, ex-ministro das Finanças, demitiu-se dois dias antes do líder dos Tories deixar o lugar à disposição e quer agora construir um novo rumo para o país. No meio da avalanche, Liz Truss manteve-se como ministra dos Negócios Estrangeiros, mas nos dias que se seguiram à saída de Boris também direcionou críticas ao chefe de Governo demissionário.
Embora tenham optado por caminhos diferentes num momento de crise, os dois candidatos têm algo em comum: são aclamados pelo trabalho que desenvolveram como governantes. Sunak porque soube ajustar as contas do país à realidade da pandemia. Truss porque se tornou numa das figuras com mais destaque na disputa de Londres com Bruxelas sobre os acordos comerciais pós-Brexit.
De olhos postos no legado deixado pelo antigo colega de Governo, Truss, vista por muitos como a nova dama-de-ferro do Reino Unido (numa comparação com a ex-primeira-ministra Margaret Thatcher), criticou as medidas financeiras aplicadas por Sunak no contexto pandémico. "Este ministro das Finanças aumentou impostos ao ritmo mais alto dos últimos 70 anos", acusou a atual chefe da diplomacia britânica, assegurando que se chegar a primeira-ministra irá propor reverter um aumento de 1,25% nas contribuições para a Segurança Social e aplicar uma moratória temporária sobre a taxa de energia verde para reduzir o custo da eletricidade, gás e combustíveis.
Para a candidata, pagar a dívida incorrida durante a crise de saúde pública "tão rapidamente vai prejudicar a economia e acabar a provocar uma recessão", destacou no debate televisivo transmitido pela BBC.
Truss atirou a primeira pedra, mas Sunak justificou o aumento dos impostos, recordando que se tornou fulcral segurar o sistema de saúde público e proteger a economia durante a pandemia. O antigo chefe das Finanças alertou a rival que adiar o pagamento da dívida pública, tal como está a planear fazer, "vai passar a conta aos nossos filhos e netos para a pagarem", acrescentando que se chegar a primeiro-ministro não irá cortar impostos até que a inflação esteja controlada.
Ponto de convergência: Ucrânia
Apesar de discordarem amplamente no que diz respeito à política financeita, Sunak e Truss estão em linha relativamente à posição que Londres deve ter perante a guerra na Ucrânia. Os dois concordam que o país invadido deve continuar a ser alvo de apoio económico e militar, mas a ministra dos Negócios Estrangeiros deixou claro aquilo que já tinha defendido anteriormente: "Não estou preparada para ver o Reino Unido ser envolvido diretamente no conflito".
A China também foi protagonista no primeiro confronto entre os dois conservadores na corrida. A chefe da diplomacia britânica acusou Sunak de ter feito pressão dentro do Governo para relações económicas mais próximas com o regime chinês e mostrou vontade em impor limites ao volume de tecnologia importada de Pequim. "Não devemos cometer o mesmo erro de ficarmos dependentes como com a Rússia", frisou.
Ao reconhecer que o gigante asiático representa "uma ameaça para a segurança nacional", Sunak aproveitou para lançar farpas à antiga colega de Governo, relembrando que também ela "defendeu uma era dourada de relações com a China e colaborações" em setores como a alimentação há pouco tempo.
Relativamente a Boris Johnson, Sunak teve uma postura mais crítica do primeiro-ministro demissionário ao longo do debate - ou a sua retirada do cargo não tivesse sido uma das causas que impulsionou a saída do líder. Apesar de elogiar a forma como tem lidado com o pós-Brexit, admitiu que os dois tinham visões muito diferentes sob a forma como a economia do país deveria ser guiada.
Truss, por sua vez, reconheceu que Johnson cometeu vários erros, mas não considera que a espiral de falhas em que se viu envolvido tenha sido o suficiente para o Partido Conservador "rejeitar o seu líder da forma como o fez". Ainda assim, ambos os candidatos concordaram que não convidariam o ex-chefe do Tories para fazer parte do novo Executivo. "Tenho a certeza de que será vocal, mas não fará parte do Governo", assegurou a governante.
No final do debate, e apesar das divergências, Sunak admitiu a Truss que "existe mais que nos une do que nos separa", sendo que ambos sugeriram que contariam com o oponente para formar uma equipa.
Segundo a mais recente sondagem até agora conhecida, Liz Truss é a candidata favorita. Uma pesquisa publicada na semana passada pelo instituto YouGov , um dia após se ficar a saber quem seriam os dois finalistas, indicava uma vantagem da ministra dos Negócios Estrangeiros, com 62% das preferências, contra 38% do seu rival, Rishi Sunak.
Será a 5 de setembro que os conservadores irão ficar a saber quem será o novo líder do partido. No dia seguinte, Boris Johnson deverá demitir-se oficialmente perante a rainha Isabel II. O seu sucessor será, automaticamente, convidado a formar Governo sem que tenha de passar por um escrutínio a nível nacional.