Escrutínio do próximo domingo deverá demonstrar o quão profunda é a divisão na sociedade da região autonómica, com conflitos entre separatistas a fragilizá-los perante o Governo central.
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A Catalunha realiza, no próximo domingo, eleições autonómicas com o independentismo esgotado depois dos inúmeros conflitos e desacordos entre Junts per Catalunha (JxCat) e Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), os dois partidos que formaram Governo durante esta legislatura. Os catalães vão decidir nas urnas quem vai liderar uma região espanhola imersa numa guerra interna que tem provocado uma fratura cada vez maior na sociedade catalã entre os favoráveis à independência, que continuam sem conhecer um plano concreto, e os unionistas, que querem manter o seu atual estatuto de fiéis a Madrid.
"Não existe um projeto real de converter Catalunha numa república a curto prazo. Não há nenhum verdadeiro projeto independentista em cima da mesa. A política catalã encontra-se numa situação de impasse e nestas eleições só está em jogo quem vai governar durante os próximos quatro anos", diz Jordi Pacheco, decano do colégio de profissionais de Ciência Política e Sociologia da Catalunha.
Apesar das oito candidaturas independentistas, as sondagens preveem que só JxCat e ERC, junto com a Candidatura da Unidade Popular, consigam representação no Parlamento da Generalitat. Porém, JxCat e ERC são os únicos partidos com uma capacidade real de ganhar as eleições, embora nunca venham a conseguir uma maioria absoluta, pelo que estarão novamente obrigados a pactuar se querem formar um Executivo independentista, como em 2017.
"O principal problema vai ser o surgimento de um Parlamento muito fragmentado, com até nove forças políticas. Se isto acontecer, os parceiros do próprio Governo vão voltar a ter conflitos internos porque as suas diferenças são enormes e a instabilidade vai ressurgir", adverte Pacheco, que não descarta a possibilidade de ter de se realizar outras eleições.
Por trás da candidatura de JxCat, encontra-se a figura de Carles Puigdemont, foragido da Justiça espanhola desde o referendo independentista realizado a 1 de outubro de 2017, exilado em Bruxelas, Bélgica, onde é eurodeputado. O partido nacionalista escolheu Laura Borràs como cabeça de cartaz para a presidência da Generalitat, com o objetivo de manter a sua estratégia de confronto contra Madrid para alcançar a independência.
Ativar declaração
Para distinguir-se do resto dos partidos soberanistas, a candidata já advertiu que, se conseguir uma maioria separatista, gostaria de ativar a declaração de independência de 2017. "É uma mensagem eleitoral que realmente não tem um planeamento por trás. JxCat aposta sempre num discurso mais radical, mas não existe nenhum pilar que possa sustentar isso", analisa o decano.
Por outro lado, a ERC, o segundo partido na sondagem do Centro de Estudos de Opinião da Catalunha, aposta na experiência de Pere Aragonès como candidato à Generalitat, após ter tido de ocupar o cargo interinamente durante os últimos meses devido a inabilitação do ex-presidente Quim Torra, ditada pelo Supremo Tribunal.
Os republicanos, liderados por Oriol Junqueras, recém-saído da prisão, onde esteve com outros presos políticos do "procés", continuam a favor do diálogo com Madrid como única via para chegar à autodeterminação e já estenderam, nos últimos meses, a mão, dando o seu apoio ao Executivo de Pedro Sánchez para a aprovação do Orçamento Geral do Estado e da imposição do estado de emergência devido à pandemia de covid-19.
"A relação da ERC com Moncloa pode criar um duplo efeito, já que os independentistas mais moderados podem ver-se representados, enquanto os mais fervorosos defensores de uma república catalã alheia a Espanha podem optar por outras alternativas mais radicais", realça Pacheco.
Infetados podem votar presencialmente
Ao contrário das eleições autonómicas da Galiza e do País Basco, os infetados com covid-19 poderão ir votar livremente, mas existe uma recomendação para acederem às urnas entre as 19 e as 20 horas, período durante o qual os membros das mesas eleitorais estarão protegidos por uma equipa especial.
Data esteve para ser alterada
O Governo catalão, com o apoio da maioria do resto dos partidos políticos, tinha decidido suspender as eleições regionais previstas para o próximo domingo e adiá-las para 30 de maio, devido à situação epidemiológica. No entanto, o Supremo Tribunal da Catalunha suspendeu o decreto do "Govern" e manteve a data inicial.