Um grupo de inspetores da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) regressou ao Irão para retomar a monitorização de segurança das instalações nucleares, alvo de recentes ataques israelitas e norte-americanos, afirmou o diretor-geral Rafael Grossi.
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"Neste momento, a primeira equipa de inspetores da AIEA regressou ao Irão e estamos prestes a retomar as nossas atividades", disse Rafael Grossi na terça-feira em entrevista à "Fox News".
O diplomata argentino que lidera a agência das Nações Unidas realçou que, após deixar o Irão em junho devido aos ataques israelitas e norte-americanos, a AIEA está agora a negociar com Teerão o modo de regresso dos inspetores, em particular "que tipo de modalidades" de inspeções "podem ser implementadas" para retomar revisões periódicas das instalações atómicas iranianas.
"Não é uma situação fácil, como se pode imaginar, porque para alguns no Irão a presença de inspetores internacionais é prejudicial para a segurança nacional", disse Grossi.
Segundo o órgão informativo regional Amwaj Media, que cita uma fonte iraniana de alto nível, a equipa de inspetores da AIEA encontra-se na cidade de Bushehr, onde está o único reator nuclear operacional do país, e o aparente retomar dos contactos com Teerão da agência sediada em Viena deve-se à necessidade de fornecer combustível à central.
De visita à capital norte-americana, Grossi afirmou que se reuniu com o enviado especial norte-americano para o Médio Oriente, Steve Witkoff, para trocar opiniões sobre as ações do Irão, numa altura em que continuam suspensas as negociações entre Washington e Teerão.
Para o líder da AIEA, a reconstrução do diálogo "é complicada", mas "não impossível".
Nesse sentido, defendeu o trabalho de inspeção da AIEA como "indispensável" para retomar eventuais negociações com Washington ou para dar uma perspetiva sobre a atitude iraniana ao E3, grupo formado pelo Reino Unido, França e Alemanha que ameaça reimpor sanções ao Irão.
Em negociações na terça-feira em Genebra, representantes do E3 não chegaram a um acordo com homólogos iranianos, disse um diplomata citado pela AP.
O diplomata, que pediu para não ser identificado, disse que os esforços vão continuar na procura de uma solução antes do prazo final do E3 para um acordo.
Os três países europeus retomaram o diálogo sobre o programa nuclear no final de julho, durante um encontro em Istambul, Turquia, com representantes iranianos.
Ameaçam agora acionar o mecanismo internacional de sanções contra o Irão, no outono, na ausência de uma solução negociada, tal como previsto no acordo nuclear de 2015.
Tratou-se do primeiro contacto desde a guerra de 12 dias entre Israel e o Irão, desencadeada a 13 de junho por um ataque israelita, apoiado pela aviação de combate dos Estados Unidos, contra instalações nucleares e militares iranianas.
As potências ocidentais temem que o Irão prossiga com o programa nuclear para adquirir armas nucleares, uma alegação que as autoridades iranianas negaram reiteradamente.
De acordo com a AIEA, o Irão é o único Estado sem armas nucleares a enriquecer urânio a um nível elevado (60%), muito acima do limite de 3,67% estabelecido pelo tratado.
Em 2018, os Estados Unidos retiraram-se unilateralmente do tratado e restabeleceram sanções, mas os membros do grupo E3 mantiveram o compromisso com o acordo de 2015 e a vontade de continuar o comércio com o Irão.
O tratado previa restrições significativas ao programa nuclear iraniano em troca de uma suspensão gradual das sanções.
Os países europeus acusaram Teerão de não cumprir os compromissos e ameaçaram retomar a política de sanções ainda este ano.
O E3 ofereceu ao Irão um prolongamento do prazo se o país retomar as discussões com os Estados Unidos, assim como pediram o reinício da cooperação com a AIEA.