Justiça apura ataque às sedes dos Três Poderes, em Brasília, enquanto Governo de Lula da Silva tenta evitar "palco político" para Bolsonaro e aliados políticos.
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Três meses após a invasão das sedes dos Três Poderes, em Brasília, o sistema judicial brasileiro continua as investigações, com destaque para o ex-secretário de Segurança do Distrito Federal (DF) e antigo ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, Anderson Torres. Estão ainda detidos 294 manifestantes, enquanto que a Procuradoria Geral da República já fez 1390 acusações formais. Lula da Silva salienta a regulação das redes sociais e evita colocar os holofotes na oposição bolsonarista.
O principal nome investigado pelos atos de 8 de janeiro é Anderson Torres, detido desde 14 de janeiro. O juiz do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, ao manter a prisão preventiva no início de março, afirmou que não há "como dissociar as condutas omissivas" do ex-secretário de Segurança do DF "dos atos ocorridos no dia 8 de janeiro". O antigo governante não deverá fazer uma delação premiada (acordo entre o Ministério Público e o acusado), garantiu o advogado de Torres.
O antigo ministro da Justiça de Bolsonaro está envolvido ainda no caso da chamada "minuta do golpe", encontrada na própria residência e que visava estabelecer um Estado de Defesa no Tribunal Superior Eleitoral. Outro documento descoberto pela Polícia Federal foi um "boletim de inteligência" com os locais que mais votaram em Lula da Silva na primeira volta, segundo o portal "Metrópoles". A dois dias da segunda volta, em outubro, Torres viajou para o estado da Baía, no Nordeste, para pressionar a realização de operações policiais nas estradas.
Outra figura em destaque no dia da invasão às sedes dos Três Poderes, o governador do Distrito Federal foi reconduzido no cargo pelo STF a 15 de março, depois de mais de dois meses afastado. O magistrado Alexandre de Moraes considerou que o regresso de Ibaneis Rocha à função pública não constitui um risco de cometimento de novos crimes e de obstrução na recolha de provas.
Presos e denunciados
Das 2182 pessoas presas nos atos golpistas, 294 permanecem detidas, sendo 208 homens e 86 mulheres, segundo a CNN Brasil. Moraes, citado pelo jornal "O Globo", descreveu um cenário "assustador" de alienação ao visitar a prisão. A Procuradoria-Geral da República já apresentou 1390 acusações formais, a maior parte denúncias por associação criminosa e por incitação à animosidade das Forças Armadas com os poderes constitucionais, às instituições civis e à sociedade, de acordo com a Agência Brasil. Nenhum financiador ou mentor foi acusado.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, pode instalar a 18 abril uma Comissão Parlamentar de Inquérito sobre as manifestações de 8 de janeiro, a pedido de congressistas bolsonaristas. O Governo é contrário por entender que a comissão pode ser um "palco político" para os opositores e que a investigação já está a acontecer com as autoridades competentes, aponta a revista "Carta Capital".
O discurso do ministro da Justiça, Flávio Dino, é de regulação das redes sociais. "Existem mecanismos pelos quais as big techs sabem o que está circulando e induzem, inclusive, a circulação de certos conteúdos. Ou seja, os meios tecnológicos existem", disse o governante. A retórica é ecoada por autoridades como Alexandre de Moraes e o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Passos Rodrigues.
Cem dias de Lula da Silva no Planalto
Na segunda-feira, dia 10 de abril, Lula da Silva completa 100 dias na Presidência do Brasil.
O período foi marcado pela disputa entre o Governo e o Banco Central, que mantém a maior taxa de juros reais do Mundo, segundo o portal "G1". Outro marco é a tentativa do Executivo em aprovar, no Congresso, novas regras fiscais e uma reforma tributária, vistas como fundamentais para o futuro do Governo.
Cinco anos da prisão do líder "petista"
Nesta sexta-feira, 7 de abril, completaram-se cinco anos da prisão de Lula da Silva, no âmbito da Operação Lava-Jato. O atual presidente brasileiro foi libertado a 8 de novembro de 2019. As condenações foram anuladas pelo Supremo Tribunal Federal, que declarou a suspeição do juiz Sergio Moro.
Lula sugere à Ucrânia que desista da Crimeia
O presidente do Brasil sugeriu que a Ucrânia pode ter que ceder a Crimeia à Rússia, de modo a colocar um ponto final na guerra. "Putin não pode ficar com o terreno da Ucrânia. Talvez se discuta a Crimeia. Mas o que ele invadiu de novo, tem que se repensar. Zelensky não pode querer tudo. O Mundo precisa de tranquilidade", declarou Lula. O presidente considerou ainda: "A Otan [NATO] não vai poder estabelecer-se na fronteira". Em reação, um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano sublinhou que "não há alguma razão legal, política ou moral" para que a Ucrânia desista de "uma única polegada do território".
No entanto, o Governo ucraniano não fechou completamente a porta a esta possibilidade. Numa entrevista ao "Financial Times", o diretor-adjunto do gabinete do presidente ucraniano, deixou a hipótese em aberto. "Se conseguirmos alcançar os objetivos estratégicos no campo de batalha e quando estivermos na fronteira administrativa com a Crimeia, estamos prontos a abrir uma página diplomática para discutir esta questão", frisou.