Uma equipa internacional científica, liderada pela Clínic-IDIBAPS (Barcelona) e pelo Instituto da Investigação do Cancro de Londres, decifrou a "caixa negra" da doença, desde a sua origem até aos aspetos que determinam a sua progressão.
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Um estudo publicado esta quinta-feira na revista científica "Nature", onde se analisou a evolução de dois mil tumores de pacientes com linfomas e leucemia, incluindo em crianças, refere como o cancro começa e como evolui, permitindo traçar uma perspetiva clínica dos pacientes. A descoberta baseou-se na aplicação de um algoritmo desenvolvido para o efeito, o EVOFLUx, aos casos analisados.
O método aplicado ao estudo é retratado como "uma nova ferramenta que nos permite ler a história passada do cancro e descobrir como se originou o tumor", a que velocidade foi crescendo e se houve divisão celular", explicou Iñaki Martín-Subero, coordenador do trabalho. Acresce que os novos conhecimentos podem ajudar a desenvolver "soluções clínicas" para tratar a doença.
"O cancro não se manifesta no momento do diagnóstico, mas desenvolve-se frequentemente de forma silenciosa durante anos", lê-se na introdução do trabalho. "Semelhante à caixa negra de um avião, que regista dados de voo como a origem, a direção e a velocidade, os investigadores descobriram que a trajetória evolutiva do cancro - metaforicamente chamada de "caixa negra do cancro" - está codificada no epigenoma. Mais especificamente, está registada num tipo especial de marcador epigenético conhecido como metilação flutuante", explicam os autores do trabalho.
Matemática na base da descoberta
A criação do algoritmo EVOFLUx, utilizando modelos matemáticos avançados permitiu reconstruir os padrões da metilação, o dezenvolvimento do cancro com uma precisão sem precedentes.
"Reanalisámos dados epigenéticos antigos sob uma perspetiva completamente nova", afirma Calum Gabbutt, do Instituto de Investigação do Cancro de Londres. "O que antes considerávamos ruído de fundo revela agora a história evolutiva do cancro", acrescenta Martí Duran-Ferrer, investigador do Idibaps e primeiro autor do estudo com Gabbutt, cita o jronal espanhol "La Vanguardia".
"No caso da leucemia linfocítica crónica, um tipo de cancro que nem sempre requer tratamento imediato, com este novo teste podemos prever com anos de antecedência quando é que a doença necessitará de tratamento", salienta Martín-Subero, também da Idibaps.
Os investigadores acreditam que a metodologia pode funcionar com todos os tipos de cancro, embora "tenha de ser adaptada a cada tipo de tumor", sublinha Martín-Subero. "Será uma ferramenta para a oncologia em geral", prevê.