Quando Ludovina Avias chegou ao bairro de São Paulo, já Bento XVI estava no interior da igreja impecavelmente pintada de véspera para recebê-lo. Foi o enorme perímetro de segurança que rodeia os locais visitados pelo Sumo Pontífice que tramou a psicóloga de 35 anos. "Não se pode guiar até aqui e assim já não vi o Papa entrar", lamentou.
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Junto à igreja de São Paulo, num outrora bairro elegante que começa agora a recuperar o charme perdido, largas dezenas de pessoas esperam a chegada do Papa, que, num ritual que se repete, saudou os fiéis do alto do impecavelmente papamóvel branco que Ludovina não viu. "Agora vou procurar outro lugar para o ver a sair", prometeu.
O tamanho de Júlio, de nove anos, e Tomé, de 11, deixava-os numa situação de desvantagem para ver chegar Bento XVI. Num ápice, prepararam um lugar que lhes é tristemente familiar para se empoleirarem. Bastou virar ao contrário dois caixotes de lixo onde diariamente procuram alimentos para conseguirem uma vista invejável sobre a entrada da igreja. Mais difícil foi explicar o porquê de tanto esforço: "É bonito ver o Papa chegar. É bonito e pronto", diz Tomé, como quem pede para não ter que responder a perguntas para as quais não tem respostas.
A missa decorreu no interior reservado da igreja. Os católicos que todos os dias frequentam o templo de São Paulo tiveram de se contentar com um "videowall" nas traseiras. Rezaram, ao contrário dos que esperaram na rua pavimentada e pintada para a visita, mas o cordão de segurança impediu-os do contacto visual com o Papa.
Finda a missa exclusivamente para membros da Igreja, Bento XVI saiu como entrou: aos acenos, com os vidros do papamóvel recolhidos. Ludovina viu finalmente o chefe supremo dos católicos. Foram cinco segundos que jamais esquecerá. "Tive a bênção do Papa, sou muito feliz". A psicóloga acredita até que agora poderá finalmente casar pela Igreja. Se conseguir convencer o seu marido, um convicto Adventista do Sétimo Dia...