O Irão denunciou esta quinta-feira à ONU que as sanções norte-americanas impostas a Teerão estão a dificultar a luta contra o novo coronavírus naquele país, exigindo o levantamento "imediato" das restrições.
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"Enquanto o vírus faz danos nas nossas cidades e pessoas, a nossa população (...) sofre a mais severa e indiscriminada campanha de terrorismo económico da História", afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Javad Zarif, numa carta enviada ao secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.
O Irão é um dos países mais afetados no mundo pela epidemia de Covid-19 (nome atribuído pela Organização Mundial Saúde à doença provocada pelo novo coronavírus), contabilizando, até à data, 429 mortos e mais de dez mil casos confirmados de pessoas infetadas.
Teerão indicou esta quinta-feira ter pedido um empréstimo de emergência no valor de cinco mil milhões de dólares (4,4 mil milhões de euros) ao Fundo Monetário Internacional (FMI) para combater o surto de Covid-19 no país.
Na missiva, o chefe da diplomacia iraniana assegurou que o trabalho para controlar a doença no Irão está a ser seriamente prejudicado pelas sanções, apesar, segundo admitiu Javad Zarif, as restrições não visarem diretamente a área dos medicamentos ou dos equipamentos de saúde.
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No entanto, frisou o ministro iraniano, a pressão exercida por Washington sobre as empresas, para que estas não façam negócios com o Irão, está a tornar quase impossível importar muitos dos itens necessários.
Além disso, lembrou Javad Zarif, as sanções dos Estados Unidos estão a dificultar a venda do petróleo iraniano, o que reduz os recursos financeiros disponíveis nos setores público e privado.
A República Islâmica também denunciou que as recentes medidas impostas contra a companhia aérea Iran Air estão a impedir milhares de iranianos de regressarem às suas casas no atual momento de crise.
O ministro lembrou igualmente que o Google, uma empresa norte-americana, vetou uma aplicação para telemóveis criada pelo Governo iraniano para fornecer informações sobre o novo coronavírus, decisão que, segundo Javad Zarif, está a privar muitos cidadãos de informações importantes.
"De que forma o mundo beneficia com os iranianos privados de medicamentos e do acesso a informações sobre o tratamento do Covid-19?", perguntou Zarif na missiva, que foi divulgada pela missão do Irão junto da ONU.
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"É inadmissível que o governo dos Estados Unidos (EUA) tenha aumentado a sua chamada 'campanha de pressão máxima'", numa altura que o vírus se propaga, reforçou o ministro iraniano.
E concluiu: "É imperativo que o governo dos EUA pare imediatamente a sua campanha de terrorismo económico e levante todas as sanções que impôs ilegalmente".
O diferendo entre os Estados Unidos e o Irão é duradouro e a tensão tem vindo a subir de tom desde que o Presidente norte-americano, Donald Trump, retirou unilateralmente, em meados de 2018, Washington do acordo internacional sobre o dossiê nuclear iraniano (firmado em 2015), e decidiu restaurar sanções devastadoras para a economia iraniana.