Israel permitiu pela segunda vez a entrada por via terrestre de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, onde a escassez alimentar atinge níveis alarmantes, com sete camiões a entrarem quinta-feira no enclave.
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"Ontem, quinta-feira, sete camiões que transportavam ajuda humanitária entraram no norte da Faixa de Gaza através de uma porta da vala de segurança", informou o COGAT, o organismo militar israelita que gere as questões civis e administrativas nos territórios ocupados.
Previamente, os camiões foram submetidos a uma "meticulosa inspeção de segurança" pelas autoridades israelitas na passagem de Kerem Shalom, e continham ajuda do Programa Alimentar Mundial (PAM), acrescentou.
As autoridades israelitas apenas permitem a entrada regular de ajuda através de duas das nove passagens para Gaza, em Kerem Shalom, e Rafah, junto à fronteira com o Egito, ambas no sul do enclave.
Esta medida dificulta a chegada de ajuda a norte, onde as necessidades são mais urgentes.
Um relatório da ONU divulgado este semana indica que metade da população de Gaza (cerca de 2,3 milhões) enfrenta o risco de fome generalizada, e quando está a receber metade da ajuda essencial que garantia antes da guerra.
As agências internacionais têm insistido na necessidade de abrir mais acessos terrestres, em particular no norte.
A 12 de março Israel permitiu pela primeira vez a entrada de uma coluna humanitária do PAM, com alimentos para 25 mil pessoas, através da porta 96 do fosso de segurança e a sua circulação por uma nova estrada militar utilizada pelo Exército para as suas operações no norte e centro do enclave.
Face à recusa de Israel em abrir novas rotas terrestres, países como a Jordânia, França, Egito ou Estados Unidos enviaram alimentos por via aérea.
A União Europeia e os EUA também anunciaram um projeto de corredor marítimo a partir do Chipre - o primeiro barco chegou a Gaza há uma semana mas a travessia prolongou-se por três dias -, alternativas que se têm revelado mais ineficazes face à alternativa terrestre.
Segundo o COGAT, cerca de 200 camiões de ajuda humanitária entram diariamente por Rafah e Kerem Shalom, mas ainda insuficientes para as necessidades da população palestiniana da Faixa de Gaza.
Mortos em Gaza superam os 32 mil
Os ataques israelitas das últimas 24 horas causaram pelo menos 82 mortos, elevando o número total desde o início da guerra para 32.070, dos quais mais de 14 mil são crianças, segundo as autoridades de Gaza, controlada pelo Hamas.
O número de feridos desde 7 de outubro é de 74.398, depois de acrescentados 110 no último dia, além de cerca de 7 mil corpos que o Ministério da Saúde da Faixa de Gaza estima estarem sob os escombros.
"O exército israelita mantém o cerco ao hospital de al-Shifa pelo quinto dia consecutivo", declarou o ministério, denunciando que as tropas israelitas detiveram cerca de 240 pacientes e acompanhantes, bem como uma dúzia de pessoal médico.
O exército disse hoje de manhã ter matado mais de 150 supostos combatentes desde segunda-feira e detido mais de 500 suspeitos, dos quais cerca de 360 foram confirmados como membros do movimentos islamitas Hamas ou Jihad Islâmica, incluindo oficiais superiores.
Na quinta-feira, o ministério comunicou a morte de 13 doentes nos cuidados intensivos, a maior parte dos quais ligados a ventiladores, devido à falta de eletricidade, enquanto a agência noticiosa oficial palestiniana Wafa acrescentou mais três mortes nas últimas horas.
Além disso, a Wafa noticiou a morte de dez civis num bombardeamento israelita contra uma casa no oeste da cidade de Gaza, uma zona da cidade mais atingida pelos ataques israelitas nos últimos dias, especialmente no bairro de Rimal, onde se situa o al-Shifa.
Fontes palestinianas relataram também bombardeamentos contra casas em Deir al-Balah e no campo de refugiados de Nuseirat, no centro do enclave, e em Beit Lahia e Jabalia, no norte, com vítimas ainda por registar.
Outros três civis foram mortos depois de terem sido atingidos por um míssil disparado por 'drones' israelitas na zona leste de Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza.
Já hoje, pelo menos oito civis foram mortos num bombardeamento aéreo israelita que visou uma casa no bairro de Nasr, a norte da cidade de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, onde vivem 1,4 milhões de pessoas deslocadas.
O ataque do Hamas em solo israelita, em 7 de outubro, causou cerca de 1200 mortos e duas centenas de reféns, segundo as autoridades de Israel, que iniciaram uma ofensiva sobre a Faixa de Gaza.
O grupo islamita palestiniano Hamas, que controla Gaza desde 2007, é classificado como uma organização terroristas por Israel, Estados Unidos e União Europeia.