O Governo israelita proibiu a entrada do eurodeputado espanhol Manu Pineda, presidente da delegação que tinha marcada uma missão à Palestina entre segunda e sexta-feira. Perante o veto ao conhecido ativista dos direitos humanos que viveu em Gaza, a missão foi cancelada este domingo e a presidente do Parlamento Europeu (PE), Roberta Metsola, manifestou o seu repúdio, prometendo questionar "as autoridades competentes".
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"Amanhã [segunda-feira], deveria começar uma missão do Parlamento Europeu na Palestina. Entretanto, Israel proíbe a minha entrada como presidente da delegação. A missão foi cancelada", escreveu Manu Pineda na rede social Twitter. E lamentou o cancelamento da visita, argumentando que tal pode prejudicar as organizações com as quais se iriam encontrar. O eleito espanhol escreveu ainda que "Israel está a bloquear o trabalho do Parlamento Europeu" ao impedir a sua entrada, após já ter recusado o pedido da delegação para visitar Gaza, sistematicamente rejeitada pelas autoridades israelitas.
Presidente do PE exige respeito
Já Roberta Metsola escreveu, este domingo, na mesma rede que lamenta a proibição da entrada do presidente da delegação do PE para as relações com a Palestina. "Vou colocar a questão diretamente às autoridades competentes", prometeu, considerando "fundamental" haver "respeito pelos membros do Parlamento Europeu" e por esta instituição de forma a garantir "boas relações".
O Ministério dos Negócios Estrangeiros informou a delegação europeia que "não foi aprovada a entrada" de Manu Pineda, com base na "informação recebida pelas autoridades competentes em Israel". Não especificou os motivos, mas a decisão está a ser atribuída a razões de natureza política pelos posicionamentos críticos daquele eurodeputado sobre Israel no âmbito da agressão à Palestina.
Não seria a primeira vez que o eurodeputado espanhol partiria em missão aos territórios da Palestina, tendo presidido a uma delegação no início da pandemia, em fevereiro de 2020. Comunista espanhol da coligação de Esquerda Unida, Manu Pineda colaborou com uma associação de defesa dos direitos palestinos e preside à delegação que iria estar durante a semana naquele país para contestar a política de ocupação israelita.
Contactos serão feitos à distância
Da delegação fazem parte deputados de diferentes grupos políticos, incluindo o comunista português João Pimenta Lopes que, este sábado, explicou ao JN os motivos desta missão, que agora foi cancelada. Alguns contactos previstos serão feitos remotamente. O programa incluía contactos com a Autoridade Nacional Palestiniana e com organizações que atuam no território, como a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente.
Logo que a decisão foi conhecida, João Pimenta Lopes transmitiu ao JN que "a deslocação prevista no âmbito de uma missão da delegação do Parlamento Europeu para as relações com a Palestina foi cancelada hoje de manhã".
João Pimenta Lopes lamenta
"A decisão, tomada pela mesa daquela delegação, decorre da informação de que o Estado de Israel não permite a entrada do presidente da Delegação do Parlamento Europeu para as relações com a Palestina, o deputado espanhol Manuel Pineda", justificou o eurodeputado português e membro efetivo da delegação, que lamenta o bloqueio de Israel.
Na véspera, tinha adiantado as razões pelas quais fora marcada a missão para a próxima semana. "Esta missão constitui um novo momento de denúncia da política de ocupação israelita", que é "violenta e ilegal", e também de "exigência do respeito e cumprimento dos direitos nacionais do povo palestiniano", afirmou sábado, criticando a União Europeia pelo "silêncio" e os EUA pela "cumplicidade".
"Usurpação de casas"
"A missão aprofundará o conhecimento sobre a política de ocupação e de colonização que Israel impõe nos territórios ilegalmente ocupados da Palestina, desrespeitando o direito internacional e resoluções das Nações Unidas", acrescentou o eleito. A missão iria acontecer num momento em que se tem vindo "a intensificar a política de colonização israelita", disse João Pimenta Lopes, dando o exemplo dos processos de despejos forçados e ocupação de territórios, "ampliando o número de colonatos, incluindo pela usurpação de casas de palestinianos, tomadas por colonos israelitas".
Entretanto, "situações como a invasão da mesquita Al Aqsa ou o assassinato da jornalista Shireen Abu Aqleh", que levou o PCP a questionar a Comissão Europeia, bem como "a repressão que se seguiu sobre o cortejo fúnebre são exemplos recentes da violência exercida por Israel sobre o povo palestiniano".
Críticas à União Europeia
O plenário do Parlamento Europeu tem sido palco para o PCP denunciar "o incompreensível silêncio das instituições da União Europeia (UE) e a ausência de uma sua qualquer iniciativa, nomeadamente no âmbito do Acordo de Associação UE-Israel, que inclui uma cláusula de suspensão".
"Apesar de afirmar o apoio à solução de dois estados, contribui objetivamente pela sua ação, ou omissão, para a continuidade da política israelita de ocupação e colonização, que impede a concretização dos inalienáveis direitos nacionais do povo palestiniano, consagrados no direito internacional", criticou João Lopes.
Por sua vez, "a administração Biden persiste no reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel", sendo os EUA "cúmplices" desta opressão.
"Trata-se da opressão de todo um povo. Opressão que permanece impune e que conta particularmente com a cumplicidade dos EUA. Recorde-se que a administração Biden persiste no reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel, dando continuidade à ilegal decisão da administração Trump", criticou João Pimenta Lopes.