O Parlamento de Itália aprovou esta quarta-feira a renovação do acordo com a Líbia para conter a migração no Mediterrâneo, apesar das múltiplas denúncias de maus-tratos e abusos contra imigrantes por parte das forças líbias.
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Apresentada pelos partidos de direita e extrema-direita que formam o Governo - os Irmãos de Itália, de Giorgia Meloni, a Liga, de Matteo Salvini, e a Força Itália, de Antonio Tajani -, a moção que solicitava a renovação do acordo foi aprovada com 153 votos a favor, 112 contra e nove abstenções.
A moção insta o executivo italiano a "seguir a estratégia de luta contra os traficantes de imigrantes e de prevenção das partidas da Líbia" em vigor desde 2017.
O acordo de cooperação com a Líbia foi assinado naquele ano pelo Governo de Paolo Gentiloni, então líder do Partido Democrata (PD, centro-esquerda), e implicava fornecer ajuda económica e técnica às autoridades líbias para intercetar embarcações com imigrantes no mar.
Contudo, desde a aplicação, o acordo tem sido duramente criticado por organizações humanitárias internacionais devido aos maus-tratos sofridos pelos imigrantes na Líbia, um país mergulhado na violência e na guerra há mais de uma década, assim como por partidos da oposição, como o próprio PD.
O PD, atualmente liderado por Elly Schlein, também apresentou uma moção a exigir a não renovação do acordo, devido às "atrocidades e sofrimentos que causou", mas a mesma foi chumbada pelo parlamento, com os votos contra dos partidos que apoiam o Governo, em maioria na Câmara dos Deputados.
"A guarda costeira líbia está profundamente infiltrada por milícias que pisam diariamente os direitos humanos e fundamentais. Ao longo destes anos, os testemunhos têm sido numerosos, incluindo sobre atrocidades, torturas, tráfico de pessoas, assassinatos, violações repetidas dos direitos mais básicos, bem como violações cometidas em alto mar", denunciou o PD em comunicado.
De acordo com dados do Ministério do Interior italiano, registaram-se este ano, e até à data, 54.380 travessias ilegais no Mediterrâneo Central, em linha com os números do ano passado, mas muito abaixo dos valores de 2023, ano em que, por esta altura, já tinham chegado às costas italianas cerca de 140 mil imigrantes.
O combate à imigração ilegal é uma das grandes "bandeiras" do Governo de Meloni, em funções desde finais de 2022.