Perante apoiantes que pediam a invasão do Supremo e do Congresso, o presidente disse ter militares ao lado do povo.
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"Temos as Forças Armadas ao lado do povo, pela lei, pela ordem, pela democracia, pela liberdade". Foi com esta frase que Jair Bolsonaro, presidente da República do Brasil, respondeu, no domingo, a apoiantes que se insurgiam contra o Congresso, que tem feito a mais dura oposição ao chefe de Estado e contra o Supremo Tribunal Federal (STF) - que determinou uma investigação a acusações de ingerência do presidente do Brasil no poder judicial e travou a nomeação de um amigo para a Polícia Federal (PF).
Colocar os militares à frente das instituições democráticas transformou-se num hábito presidencial, que vem há várias semanas participando em atos deste género. Aproveita-os para disparar contra governadores estaduais por decretarem confinamentos devido à pandemia de covid-19 e, agora, para atirar aos inimigos políticos, o último dos quais o ex-ministro e ex-juiz da Operação Lava Jato Sérgio Moro (ver caixa), que o abandonou fazendo as já referidas acusações.
"Acabou a paciência" para "interferências" na sua governação, disse Bolsonaro, referindo-se aos obstáculos colocados pelo STF à nomeação de Alexandre Ramagem, amigo pessoal dele e dos filhos, para a direção da PF. A escolha, feita depois de exonerar o anterior diretor, o que levou à demissão de Moro, visava, segundo este último, ter alguém que passasse a Bolsonaro informações sobre investigações envolvendo os seus filhos (numa rede de notícias falsas e em desvio de fundos) e, curiosamente, um ato em tudo semelhante ao de ontem, em que se apelou à tomada militar do Congresso e do STF. Um ato para muitos antidemocrático.
"Vamos invadir. Olé, olé, STF é puxadinha do PT" (Partido dos Trabalhadores, de Lula da Silva ), cantaram os manifestantes, à passagem pelo Supremo. "É uma manifestação espontânea, pela democracia", alegou Bolsonaro, perante um aglomerado exaltado (foram agredidos jornalistas) sem máscaras, a quem o ex-capitão saudoso da ditadura assegurou ter a tropa do lado deles. E pediu "a Deus" que não haja "problemas esta semana": "Daqui para a frente, não só exigiremos, faremos cumprir a Constituição. Amanhã nomeamos um novo diretor para a PF".
Recorda o jornal "A Folha de S. Paulo" que este ato é mais um possível crime de responsabilidade em que incorre Bolsonaro e que pode sustentar um processo de destituição, por atentar contra a Constituição e o livre exercício do poder legislativo, do poder judiciário e dos poderes constitucionais".
"Há lealdades maiores do que as pessoais"
Sérgio Moro passou anteontem oito horas a testemunhar na PF no âmbito das acusações de tentativa de interferência política de Bolsonaro na direção da força policial. Estrela do Governo, o superministro é agora chamado chamado "judas" pelo homem que o convidou para governante. Ontem, respondeu: "Há lealdades maiores do que as pessoais".