Durante a cerimónia do 70.º aniversário do bombardeamento atómico em Nagasaki, o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, prometeu que o seu país "continuará a aderir" aos princípios de não produzir, não utilizar nem transportar armas nucleares.
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"Como único país do mundo a ter experimentado os horrores de um ataque nuclear, lideraremos os esforços para conseguir um mundo livre de armas atómicas", disse Shinzo Abe, no seu discurso deste domingo.
O Japão "continuará a aderir aos princípios de não produzir nem possuir armamento nuclear e de não permitir a entrada do mesmo no país", frisou, afastando dúvidas sobre a possibilidade de o exército poder transportar armas nucleares em operações de apoio aos aliados na sequência da reforma militar.
No discurso que proferiu na quinta-feira, durante a cerimónia do 70.º aniversário do bombardeamento em Hiroshima, o primeiro-ministro não fez referência aos três princípios antinucleares adotados pelo Japão em 1967, omissão que desencadeou fortes críticas por parte da oposição.
As palavras de Abe eram aguardadas com expetativa após a reinterpretação do artigo pacifista da Carta Magna promovida pelo Governo, a qual vai permitir, pela primeira vez em 68 anos, que as Forças de Autodefesa (exército) operem no estrangeiro e defendam os seus aliados em caso de ataque.
O ministro da Defesa japonês, Gen Nakatani, chegou a admitir que, com esta reforma, "tecnicamente" o Japão poderia transportar armas nucleares para os seus aliados em caso de ter de lhes providenciar assistência militar, durante a sua deslocação à Câmara Alta na passada quarta-feira. Contudo, apressar-se-ia depois a descartar tal hipótese, invocando os referidos três princípios.
Shinzho Abe anunciou, esta semana, que pretende apresentar, no outono, uma resolução na Assembleia-Geral das Nações Unidas com vista ao desarmamento nuclear, bem como que o Governo que lidera vai promover medidas nesse sentido durante a cimeira de líderes do G7, que se realiza no próximo ano, na localidade japonesa costeira de Shima.
Os Estados Unidos lançaram o primeiro ataque nuclear da história sobre a cidade de Hiroshima a 06 de agosto de 1945 e, apenas três dias depois, uma segunda bomba atómica sobre Nagasaki.
Os bombardeamentos contra as duas cidades japonesas mataram de imediato 80 mil e 74 mil pessoas, respetivamente. Dezenas de milhares de outras morreram ao longo dos anos seguintes devido aos efeitos causados pela radiação.
A 15 de agosto, depois do último bombardeamento e da declaração de guerra da União Soviética, o imperador Hirohito anunciou o cessar-fogo. A 2 de setembro, o Japão assinava o instrumento de rendição incondicional, pondo fim à Segunda Guerra Mundial.
O papel dos bombardeamentos atómicos na rendição japonesa e a sua justificação ética continuam a ser debatidos. Num estudo do instituto norte-americano Pew Research Center, divulgado em fevereiro, mais de 56% dos norte-americanos consideraram que a utilização da bomba atómica contra o Japão foi justificada, contra 79% dos japoneses que afirmaram o contrário.