Jovem integrou comitiva de 15 pessoas que se dirigia à Moldávia.
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João Moreira, o jovem que passou a noite de quinta-feira na Embaixada de Portugal em Kiev, tinha acabado de adormecer quando, pelas 3.30 horas, acordou sobressaltado com a primeira de várias explosões. "Sempre que havia uma, íamos para o abrigo, que fica na cave do edifício", recorda.
Nesse refúgio, encontrava, além de Beatriz Barata, a outra jovem que pernoitou na embaixada, cerca de dez pessoas, entre os quais o embaixador da Macedónia e a esposa. O vaivém provocado pelas bombas prolongou-se até às 7 horas, quando o prometido miniautocarro para retirar os portugueses da Ucrânia chegou.
João entrou na viatura com a roupa que vestia, o computador e a carteira com os documentos. Nada mais. Os restantes companheiros de viagem, no total de 15 contando com o motorista, pouco mais transportavam. "Em Kiev, só vi alguns carros a passar a alta velocidade ao som das sirenes. Ninguém estava na rua e continuavam a ouvir-se explosões", descreve.
O cenário foi-se alterando à medida que a capital da Ucrânia ficava para trás. "Quanto mais afastados ficávamos da cidade, maior era o número de carros na estrada", revela.
Aliás, João Moreira conta que o intenso tráfego, aliado às más condições da faixa de rodagem, atrasou uma viagem que todos desejavam a mais rápida possível. Pelas 18 horas, quando o economista de Paredes falou com o JN, a comitiva tinha percorrido pouco mais de 200 quilómetros em direção à liberdade. "Somos obrigados a circular devagar. Há muito trânsito e veem-se alguns carros a circular em contramão. Todos querem fugir", afirma.
O plano inicial da fuga, anunciaram os funcionários diplomáticos aos portugueses, era seguir em direção à Roménia. Contudo, a meio do trajeto, o miniautocarro dirigiu-se à Moldávia. "Não sabemos qual a razão, por que não está ninguém da embaixada na carrinha. Os dois funcionários saíram logo que abandonámos Kiev e nunca mais fomos contactados", avança.
Entregue à sua sorte, João ouviu apenas o condutor explicar que a carrinha irá parar junto à fronteira e que, do lado moldavo, haverá gente com responsabilidades diplomáticas à sua espera. Ele esperava que assim fosse, mas não tinha qualquer certeza. "Não sei a que horas vamos chegar. Só parámos duas vezes para comprar comida e ir à casa de banho, mas continuamos muito longe", declara.