Panos Kammenos, cujo partido nacionalista Gregos Independentes aceitou integrar um improvável Governo de coligação com o partido da esquerda radical Syriza, andou outrora pelos corredores do parlamento envergando uma "t-shirt" em que se lia "A Grécia não está à venda".
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À primeira vista, o bombástico líder de 49 anos dos Gregos Independentes (ANEL) e o primeiro-ministro, Alexis Tsipras, do Syriza, parecem ser parceiros estranhos, mas ambos são veementemente contra a austeridade e estão igualmente determinados em renegociar a dívida do resgate internacional do país.
A decisão de Kammenos de imediatamente aliar o seu partido ao Syriza após as eleições do passado domingo foi recompensada com o cargo de ministro da Defesa no novo Governo hoje conhecido.
A carreira política de Kammenos, nascido em 1965, começou em 1993, aos 28 anos, quando foi eleito deputado pelo conservador partido Nova Democracia, na sua Atenas natal.
Após seis mandatos consecutivos, abandonou o partido conservador do ex-primeiro-ministro Antonis Samaras em 2012, depois de divergências quanto ao programa de resgate internacional do país, que levou à aplicação de penosas medidas de austeridade aos cidadãos gregos.
Kammenos fundou, em seguida, o seu próprio partido, que aceitou na segunda-feira tornar-se o parceiro do Syriza no Governo. Juntos, o ANEL e o Syriza -- que ficou a apenas dois deputados da maioria absoluta no parlamento de 300 lugares, no escrutínio de domingo -- têm agora 162 deputados.
Mas os analistas dizem que o ANEL poderá revelar-se uma bomba-relógio, imprevisível, na melhor das hipóteses, e que governar com tal partido poderá também destruir o equilíbrio entre as várias fações de esquerda que compõem o Syriza.
Um economista que estudou em França, Panos Kammenos não é um estranho da controvérsia e tem-se metido frequentemente em apuros depois de proferir acusações às vezes estapafúrdias.
Gosta de teorias da conspiração, culpando obscuras teias de interesses internacionais pela situação económica na Grécia e acusando, com frequência, alguns políticos socialistas de apoiarem um grupo terrorista nacional, num país onde o anarquismo tem raízes profundas.
Partidário convicto da direita popular, distinguiu-se pela sua oposição a qualquer aproximação da Grécia à Turquia na questão cipriota e nos conflitos bilaterais no mar Egeu.
Foi também um opositor feroz a qualquer compromisso da Grécia com a República da Macedónia quanto ao nome desse país.
Em matéria de imigração, partilha a posição de linha dura em relação aos imigrantes ilegais de Antonis Samaras, líder da Nova Democracia.
Mas as maiores críticas de Kammenos estão, por estes dias, reservadas à Alemanha, o país considerado a força motriz por detrás da imposição da austeridade, e que ele diz tratar os seus parceiros europeus como "concubinas".
Cristão ortodoxo devoto, Kammenos tem sido acusado de antissemitismo, depois de ter afirmado, em dezembro, que os judeus gozam de tratamento preferencial em matéria de impostos na Grécia.
Kammenos comprometeu-se a pôr fim "à humilhação" dos penosos cortes na despesa e reformas impostos à Grécia em troco do resgate de 240 mil milhões de euros pela União Europeia e o Fundo Monetário Internacional.
Desde as eleições europeias de junho de 2014, o seu partido integra o grupo de eurocéticos criado pelo britânico UKIP.