A Ucrânia não vê "qualquer sinal" de retirada voluntária das tropas russas da cidade de Kherson, no sul do país. Zelensky pede calma em tirar conclusões com base na narrativa de Moscovo.
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O presidente ucraniano disse que o país está a reagir com "extrema cautela" ao anúncio da retirada russa de Kherson, feito hoje pelo ministério da Defesa russo. "O inimigo não nos dá presentes, não mostra gesto de boa vontade, devemos vencer tudo", ressalvou Zelensky no seu discurso noturno habitual.
Antes, um assessor da presidência ucraniana, Mykhailo Podoliak, tinha considerado as declarações de Moscovo sobre a retirada das tropas de Kherson "encenadas". "Não vemos qualquer sinal de que a Rússia esteja a deixar Kherson sem combate. Parte dos militares russos ainda se encontra na cidade e estão a ser enviados reservistas para a região", escreveu no Twitter, acrescentando que "as ações dizem mais do que as palavras" e que "a Ucrânia está a libertar territórios baseando-se em dados de serviços secretos, não em declarações na televisão".
O ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, decidiu hoje que as forças armadas russas se vão retirar da cidade ucraniana de Kherson, na região com o mesmo nome, anexada ilegalmente por Moscovo em setembro, segundo a agência de notícias TASS.
O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, considerou hoje "encorajadora" a forma como o exército ucraniano está a ser capaz de "libertar mais território", mas mostrou-se também cauteloso sobre a retirada de Kherson. "Vimos o anúncio, mas, é claro, vamos esperar para ver o que acontece no terreno", disse em Londres após o primeiro-ministro do Reino Unido.
Kherson, no sul da Ucrânia, é umas regiões anexadas em setembro pela Rússia, tal como aconteceu com Lugansk, Donetsk e Zaporijia, o que foi condenado pela comunidade internacional. Além disso, é também um dos alvos de uma contraofensiva lançada pelas forças de Kiev há cerca de dois meses.
A cidade de Kherson é a única capital regional que as forças russas ocuparam nos mais de oito meses de guerra na Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro com uma invasão de território ucraniano por parte da Rússia.
Segundo a TASS, o ministro da Defesa da Rússia foi informado esta quarta-feira pelos comandantes militares no terreno de que era impossível abastecer com mantimentos a cidade de Kherson e outras áreas da margem ocidental do rio Dnieper, tendo Shoigu concordado com a proposta de recuo das tropas para a margem leste.
Já as autoridades militares ucranianas no terreno disseram hoje que a Rússia destruiu várias pontes sobre o rio Dniepre, na margem direita, e consideram que o objetivo da Rússia agora é travar a ofensiva militar da Ucrânia.
Segundo as mesmas autoridades, além de destruir pontes, a Rússia reforçou posições nas imediações da barragem e central hidroelétrica de Kajovka e de uma fortificação em Naddniprianske, para garantir a segurança durante a retirada.
"A pressão das nossas forças armadas fez com que os ocupantes estejam a tentar, por todos os meios, que não pareça um colapso total da frente, mas uma retirada planeada", afirmou um dos comandantes militares ucranianos em Kherson.