Presidente turco, que ficou a menos de um ponto percentual da reeleição, chega à segunda volta com maioria parlamentar e perspetiva de transferência de votos do terceiro colocado
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O final de domingo não foi a noite eleitoral perfeita para Recep Tayyip Erdogan, que pela primeira vez concorrerá numa segunda volta presidencial. No entanto, os resultados estão longe de serem desfavoráveis, já que o presidente turco começa a campanha da segunda volta com a confirmação de uma maioria parlamentar do seu partido e com a perspetiva de receber importantes votos do terceiro colocado. O opositor Kemal Kiliçdaroglu tenta agora não desmobilizar os apoiantes e promete lutar até ao fim pela vitória no escrutínio de 28 de maio.
Segundo resultados apresentados esta segunda-feira pelo YSK, o Conselho Eleitoral Supremo da Turquia, o islamista e conservador Erdogan, do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP, na sigla em turco), reuniu 49,51% dos votos domésticos, enquanto o social-democrata Kiliçdaroglu, do Partido Republicano do Povo (CHP), ficou com 44,88%. O terceiro colocado, com 5,17%, foi o político de extrema-direita Sinan Ogan, da coligação nacionalista Aliança Ancestral. Muharrem Ince, candidato do Partido da Pátria, que abandonou a corrida presidencial na semana passada, teve 0,44%.
A proximidade ideológica do terceiro lugar com Erdogan deverá garantir uma confortável transferência de votos, o que permitiria ao presidente turco conquistar mais de 50% nas urnas. Ogan, no entanto, não garantiu esta segunda-feira se vai apoiar algum dos lados. O atual chefe de Estado ainda tem como vantagem a legitimidade de uma votação na primeira volta com taxa recorde de afluência, com a presença de pouco menos de 89% dos eleitores. Até mesmo áreas gravemente atingidas pelos sismos de fevereiro, que mataram mais de 50 mil pessoas, tiveram altos níveis de apoio a Erdogan.
O líder do AKP tem também boas notícias nas legislativas, já que a coligação de que o seu partido faz parte, a Aliança do Povo, deve ficar com pelo menos 333 dos 600 assentos da Grande Assembleia Nacional, de acordo com a agência de notícias estatal Anadolu. A Aliança Nacional, em que o CHP de Kiliçdaroglu está incluído, conquistou 213 cadeiras. A Aliança do Trabalho e Liberdade, que tem os pró-curdos do Partido Democrático dos Povos, ficou em terceiro, com 65 representantes.
Mobilização dos apoiantes
Em declarações esta segunda-feira na rede social Twitter, Erdogan agradeceu aos mais de 27 milhões de eleitores que o escolheram e classificou a Turquia como "um dos países com a cultura democrática mais avançada do Mundo". O presidente turco disse ainda respeitar a "vontade manifestada nas urnas" e que sairá vitorioso a 28 de maio, num resultado que classificou ser um "sucesso histórico".
Kiliçdaroglu pediu aos apoiantes que "não caiam no desespero". "Eu vou ficar de pé. Levantar-nos-emos e enfrentaremos esta eleição juntos", reiterou o líder do CHP no Twitter. O resultado contrariou as últimas sondagens antes do escrutínio, que davam uma vitória ao opositor na primeira volta.
De acordo com especialistas ouvidos pela agência France-Presse, os benefícios económicos de última hora concedidos pelo Governo de Erdogan, a associação criada entre Kiliçdaroglu e milícias curdas, o ultranacionalismo presente na Turquia e o enviesamento das sondagens ajudam a explicar o cenário eleitoral deste dia 14.
Rússia fala em aprofundar relações
O Kremlin garantiu respeitar "a escolha do povo turco". "Mas, em qualquer caso, esperamos que a nossa cooperação continue, se aprofunde e se desenvolva", afirmou um porta-voz.
UE celebra afluência
A União Europeia (UE), através da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, saudou a "forte participação" dos eleitores, dizendo ser "um sinal claro que a população turca está empenhada em exercer os seus direitos democráticos".
Observadora lusa
Em declarações à agência Lusa, a deputada do PS, Joana Lima, em Istambul como observadora, afirmou que o processo decorreu com "grande tranquilidade" e "muita transparência".